*Por Luis Felipe Miguel
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Ciro Gomes. (foto: Mauro Pimentel/ AFP) |
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Em entrevista na Folha de hoje, Ciro Gomes se mostra em toda sua
grandeza. Não basta uma lupa para vê-lo, é preciso um microscópio eletrônico. O
governo eleito e a ameaça que ele encarna não o ocupam; sua energia está toda
voltada contra o PT. Não está minimamente preocupado com a resistência
democrática; seu projeto para o Brasil começa e termina na sua candidatura. O
destempero verbal é tamanho que um homem da dignidade de Leonardo Boff é
chamado de “um bosta”, porque ousou criticá-lo.
Não consigo entender qual sinal dos céus deu ao Ciro a certeza de que
ele tinha o direito divino de ser o candidato da esquerda das eleições deste
ano. Ele foi candidato, legitimamente, mas a vaga no segundo turno foi dada –
pelas urnas! – a Fernando Haddad. Felizmente, eu diria. Haddad cresceu
enormemente na campanha. E Ciro, como mostrou seu comportamento após a derrota
no primeiro turno, realmente não tinha estofo para assumir esse papel.
É possível fazer a crítica – legítima e mesmo necessária – ao PT sem
abrir mão da unidade necessária na resistência. É claro também que ninguém
espera que essa unidade seja perfeita e sem atritos, mas há um abismo entre
trabalhar para que as diferenças sejam respeitadas sem sabotar o trabalho comum
ou usá-las para tentar marginalizar parceiros e obter uma liderança de proveta.
Como falei antes, a linha divisória principal é entre aqueles que
criticam o PT a partir de um ponto de vista programático, como é o caso do
PSOL, e aqueles que estão preocupados apenas com suas ambições pessoais. O PSOL
vai ter que lutar para manter sua independência num momento de luta conjunta em
que o PT é, de longe, a força mais forte. Tenho certeza de que conseguirá, pela
qualidade política de seus quadros. Já Ciro vai ter que decidir se passa à lata
de lixo da história ou se tem chance de reciclagem.
*Professor de ciência política da UnB.
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