'Quando a democracia pode ser maior que o antipetismo'
*Por Grazielle David
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Democracia participativa: a vez e a voz de cada cidadão e cidadã / Foto: Instituto Pólis |
Foi numa segunda-feira pós 1º turno, em meio a uma conversa difícil
sobre as eleições, que uma querida amiga de infância por fim me
perguntou: “por que Haddad”? Respirei profundamente enquanto um filme
passava em minha cabeça, com artigos, tabelas, imagens, índices; então
disse a ela: “por várias razões. Está disposta a escutar”? Tive um aceno
positivo de cabeça.
1. Porque tem história e projetos para superação da fome e redução da pobreza
Em 2015, a ONU divulgou que o Brasil saiu do Mapa da Fome. Fome, algo tão básico do ser humano. Mas, foi somente com as políticas da última década que pudemos chegar aos indicadores apontando o número de pessoas subnutridas no Brasil como “NS”, quando as estatísticas são insignificantes. Isso indica que o país tem menos de 5% da população nesta situação.
Em 2015, a ONU divulgou que o Brasil saiu do Mapa da Fome. Fome, algo tão básico do ser humano. Mas, foi somente com as políticas da última década que pudemos chegar aos indicadores apontando o número de pessoas subnutridas no Brasil como “NS”, quando as estatísticas são insignificantes. Isso indica que o país tem menos de 5% da população nesta situação.
Segundo o Relatório da ONU, foram as políticas de proteção social do
período de 2000 a 2014 que estabeleceram um círculo virtuoso de
progresso, envolvendo o aumento da renda, do emprego e dos salários das
pessoas mais pobres, com destaque para a maior inclusão das mulheres. O
documento cita como exemplo os programas “Fome Zero”, “Bolsa Família”,
“PAA – Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar”, que
segundo a Agência foram cruciais para alcançar um crescimento inclusivo
no país e retirar milhares de pessoas da pobreza. Haddad tem em seu
programa o fortalecimento e aprimoramento dessas políticas públicas.
2. Porque tem história e projetos de valorização o salário e redução das desigualdades
Além de também terem sido fundamentais para a superação da fome e para a redução da pobreza, as políticas de valorização do salário mínimo e de emprego contribuíram para a redução de desigualdades. Com um mercado de trabalho altamente desestruturado, se ele fosse deixado para a livre negociação entre empresas e trabalhadores, os rendimentos seriam bastante inferiores e mais desiguais. Isso porque as pessoas que recebem salário mínimo são justamente aquelas que possuem características de maior vulnerabilidade e menor capacidade de barganha salarial no mercado de trabalho, como o fato de ser do sexo feminino, de baixa escolaridade, negro, empregadas domésticas, ou ainda por se tratar de categorias com fraca organização sindical, entre outras. Haddad tem em seu programa políticas púbicas específicas para o salário mínimo, “emprego de novo” e redução de desigualdades, com destaque para as mulheres.
Além de também terem sido fundamentais para a superação da fome e para a redução da pobreza, as políticas de valorização do salário mínimo e de emprego contribuíram para a redução de desigualdades. Com um mercado de trabalho altamente desestruturado, se ele fosse deixado para a livre negociação entre empresas e trabalhadores, os rendimentos seriam bastante inferiores e mais desiguais. Isso porque as pessoas que recebem salário mínimo são justamente aquelas que possuem características de maior vulnerabilidade e menor capacidade de barganha salarial no mercado de trabalho, como o fato de ser do sexo feminino, de baixa escolaridade, negro, empregadas domésticas, ou ainda por se tratar de categorias com fraca organização sindical, entre outras. Haddad tem em seu programa políticas púbicas específicas para o salário mínimo, “emprego de novo” e redução de desigualdades, com destaque para as mulheres.
3. Porque o povo brasileiro estava feliz e esperançoso e pode voltar a ficar
Havia esperança no coração das pessoas, a vida estava melhorando e isso aumentava a alegria. Entre os países, com índice de felicidade da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil estava na frente. Porém, de 2015 a 2018 sua posição no ranking despencou, de 17º para 22º.
Havia esperança no coração das pessoas, a vida estava melhorando e isso aumentava a alegria. Entre os países, com índice de felicidade da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil estava na frente. Porém, de 2015 a 2018 sua posição no ranking despencou, de 17º para 22º.
Nesse momento minha amiga me interrompeu e questionou: “tudo bem,
tudo que você está falando é verdade, mas a partir de 2015 tudo isso
mudou. O PT destruiu a economia, o PT roubou o país. Como você consegue
cogitar votar nele agora”?
4. Porque a crise econômica não teve uma causa única, mas múltiplas: crise global, queda do preço das commodities, crise política nacional, escolhas políticas inadequadas
Um primeiro elemento da crise econômica nacional é o contexto internacional. A crise econômica global de 2008 teve seu impacto de forma tardia no Brasil. Ocorreu importante redução da importação de produtos brasileiros devido à dificuldade de retomada econômica de vários países. Simultaneamente ocorreu, no final de 2014, uma importante queda do preço das commodities, como o petróleo, o que fez com que a balança comercial ficasse ainda mais prejudicada.
Um primeiro elemento da crise econômica nacional é o contexto internacional. A crise econômica global de 2008 teve seu impacto de forma tardia no Brasil. Ocorreu importante redução da importação de produtos brasileiros devido à dificuldade de retomada econômica de vários países. Simultaneamente ocorreu, no final de 2014, uma importante queda do preço das commodities, como o petróleo, o que fez com que a balança comercial ficasse ainda mais prejudicada.
A crise política pela qual o país passava, desde o dia seguinte à
eleição, com a negação do seu resultado, também se associa como
importante elemento da crise econômica. Por fim, a desastrosa escolha de
seguir a agenda Fiesp, a partir de 2011, com destaque para o aumento
dos gastos tributários, o que colaborou muito com a redução da
capacidade arrecadatória do Estado e prejudicou o equilíbrio fiscal.
Diante do déficit fiscal haviam opções, retomar a capacidade
arrecadatória com uma reforma tributária, justiça fiscal e
fortalecimento dos investimentos sociais com efeitos multiplicadores
econômicos; ou cortar despesas. Sob forte pressão, já em 2015, os cortes
orçamentários foram adotados. Porém, foi com a Emenda Constitucional
(EC) 95 de Temer que essas medidas de austeridade foram aprofundadas e
constitucionalizadas. O resultado? Agravamento da situação social e
fiscal no país.
Assim, grande questão que temos agora sobre a possibilidade de
retomada do crescimento econômico é: quem pretende revogar a EC 95 e o
que fará para buscar o equilíbrio fiscal?
Haddad é quem defende revogar o ‘teto dos gastos’ e em substituição
realizar uma reforma tributária progressiva associada com investimentos
sociais que têm efeitos multiplicadores econômicos. Já Bolsonaro
pretende manter a EC 95 e aprofundar seus efeitos, cortando ainda mais
as despesas sociais, fazendo uma forte reforma da previdência e
realizando mera simplificação tributária.
5. Porque a corrupção é sistêmica, o PT não é o partido mais corrupto
Dados da CGU mostram como a corrupção é sistêmica, 4 em cada 5 prefeituras fiscalizadas (80%) apresentam irregularidades graves e médias, que indicam a ocorrência de desvios de recursos públicos federais, passando por todos os partidos políticos. Ranking do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral mostra que os partidos mais corruptos, em sequência são: DEM, MDB, PSDB, PP, PTB, PDT, PR, PPS, PT, PPB, PSB, PSL. Também é importante lembrar que não podemos generalizar tudo. Existem políticos corruptos em todos os partidos, mas isso não significa que todos sejam. Haddad não tem condenação e Bolsonaro tem vários processos abertos contra ele.
Dados da CGU mostram como a corrupção é sistêmica, 4 em cada 5 prefeituras fiscalizadas (80%) apresentam irregularidades graves e médias, que indicam a ocorrência de desvios de recursos públicos federais, passando por todos os partidos políticos. Ranking do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral mostra que os partidos mais corruptos, em sequência são: DEM, MDB, PSDB, PP, PTB, PDT, PR, PPS, PT, PPB, PSB, PSL. Também é importante lembrar que não podemos generalizar tudo. Existem políticos corruptos em todos os partidos, mas isso não significa que todos sejam. Haddad não tem condenação e Bolsonaro tem vários processos abertos contra ele.
6. Porque Haddad é o único candidato do campo democrático no 2º turno
Aqui reside uma questão central da eleição. Temos apenas um candidato do campo democrático no 2º turno, Haddad. Isso porque faz parte da essência da democracia a garantia da liberdade política e de expressão, a pluralidade, a participação social na tomada de decisões políticas e os direitos humanos. Bolsonaro é contrário a todas essas questões. Em recente pronunciamento, ele afirmou que em seu governo não aceitará ativismo, o que inviabiliza a liberdade política, o pluralismo e a participação. Mais grave do que o que ele pode fazer é a legitimidade que confere a grupos fascistas e violentos que o defendem, para que possam praticar atos sem medo de punição. Isso já começou, com agressões a grupos como gays e mulheres.
Aqui reside uma questão central da eleição. Temos apenas um candidato do campo democrático no 2º turno, Haddad. Isso porque faz parte da essência da democracia a garantia da liberdade política e de expressão, a pluralidade, a participação social na tomada de decisões políticas e os direitos humanos. Bolsonaro é contrário a todas essas questões. Em recente pronunciamento, ele afirmou que em seu governo não aceitará ativismo, o que inviabiliza a liberdade política, o pluralismo e a participação. Mais grave do que o que ele pode fazer é a legitimidade que confere a grupos fascistas e violentos que o defendem, para que possam praticar atos sem medo de punição. Isso já começou, com agressões a grupos como gays e mulheres.
Minha amiga então utilizou um argumento já bem difundido: “se nem
todo mundo que vota no PT é corrupto, nem todo mundo que vota em
Bolsonaro é fascista”. A grande questão é que como sociedade, por meio
de instituições, é possível atuar na fiscalização e combate à corrupção.
Porém, isso não é verdade com relação ao autoritarismo. Quem tenta
combatê-lo é preso, torturado, assassinado.
Há que se colocar na balança de forma racional, o que é mais
importante: o antipetismo ou a democracia? Bolsonaro mesmo já afirmou
que o grande erro da ditadura foi “só” torturar, que deveria ter matado
mais. Não é uma fala de efeito, não é uma brincadeira, não é um exagero.
Ele está mostrando o que pretende fazer, depois poderá ser tarde para
arrepender.
*Grazielle David é conselheira do Centro Brasileiro de
Estudos de Saúde (Cebes), especialista em orçamento público, mestre em
saúde coletiva - economia da saúde, e especialista em Bioética.
Edição: Cecília Figueiredo
Fonte: Publicado no Brasil de Fato
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