De acordo com as pesquisas, passado um
ano, o ex-capitão lidera o ranking dos piores presidentes que o Brasil conheceu
*Por Marcos Coimbra - Opinião
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(Foto: Alan Santos/PR)
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Entramos no décimo segundo mês do
governo (?) do ex-capitão Jair Bolsonaro. Daqui a alguns dias, seu primeiro ano
estará concluído. Sem foguete, sem retrato e sem bilhete.
Não houve surpresas na política em 2019.
O que se podia esperar de ruim aconteceu. Nada de bom fez com que
reconsiderássemos as expectativas sombrias do início do ano. Talvez haja nisso
exagero. No lado da ruindade houve, sim, imprevistos. Quem conseguiria imaginar
que o péssimo ministério do início pudesse piorar? Foi o que aconteceu. Todos
os ministros que saíram cederam lugar a gente ainda mais desqualificada.
Afundou a abissal qualidade.
No fim de seu primeiro ano, Bolsonaro
está tão Bolsonaro quanto antes. A mesma grosseria, a mesma mesquinhez, a mesma
incapacidade de qualquer gesto de grandeza, a mesma falta de inteligência e
educação. Sua equipe é constituída por gente tosca e despreparada. O nível é
tão baixo que há quem suponha que eles se entretêm com um jogo perverso: descobrir
até onde podem descer, até que ponto podem chegar na afronta aos sentimentos e
valores da maioria.
De acordo com as pesquisas, passado um
ano, o ex-capitão lidera o ranking dos piores presidentes que o
Brasil conheceu. Sozinha, a proporção daqueles que o avaliam desta forma
equivale à soma do segundo e terceiro colocados, Fernando Collor e Dilma
Rousseff. A situação de um cidadão em início de mandato que tem uma rejeição
igual à soma de dois presidentes que foram depostos não pode ser boa.
O tamanho do núcleo que o apoia na
sociedade diminuiu mês a mês. Bolsonaro não foi apenas incapaz de atrair novos
simpatizantes, mas de preservar o patrimônio que uma vitória eleitoral costuma
assegurar. Perante a opinião pública, chefiar o governo não somente não o
fortaleceu, mas o enfraqueceu.
Resta-lhe a avaliação efetivamente
positiva de algo perto de 15% da população. É essa a parcela que gosta dele e
aprova suas políticas mais importantes, para a saúde, a educação, a valorização
do salário mínimo, a geração de empregos, o meio ambiente. É a mesma proporção
daqueles que consideram que o governo cuida e projeta uma boa imagem
internacional do País.
No fundo, existir um em cada dez
cidadãos que aplaude o governo é extraordinário. Que cabeça é essa de quem
aceita os despropósitos cometidos na educação, no meio ambiente e na cultura? O
que pensa quem não se envergonha dos fiascos e das declarações estapafúrdias do
ex-capitão?
Ao terminar o ano, o que sustenta
Bolsonaro é apenas o tempo. A maioria da população, indiferente à política e
mal informada, acha que é cedo para decretar que ele não presta. Se o tempo de
governo não fosse ainda pequeno, as cobranças seriam maiores e menor a
paciência. A incompetência não seria desculpada como fruto da inexperiência ou
da “novidade”.
O problema com esse tipo de capital é
que ele decai a cada dia e é impossível renová-lo. O tempo passa e nunca
dão certo as tentativas de ganhar mais algum.
Logo depois da eleição de 2018, o
Datafolha fez uma pesquisa e constatou que a maioria dos brasileiros, mesmo
quem não havia votado em Bolsonaro, esperava melhoras em dois aspectos: na
economia, com a retomada do desenvolvimento, e na segurança, com a redução da
criminalidade. Até agora, nada disso aconteceu.
A melhora na economia não é algo que
precisa ser explicado. Ou é uma constatação que decorre da experiência concreta
das famílias, de seus bons empregos, dinheiro no bolso, casa própria e comida
na geladeira ou é conversa fiada. Com a política econômica do governo, a chance
de que uma melhora verdadeira aconteça nos três próximos anos é perto de zero.
Os crédulos, entre os quais se perfila a mídia, que esperem o improvável futuro
no qual o modelo dará certo, enquanto engolem os sapos que o ex-capitão
despeja.
Coisa semelhante vale na segurança
pública. Bolsonaro e sua turma engrossam a voz e fazem arminha, mas não têm a
menor capacidade ou vontade de enfrentar a criminalidade. Só o que podem exibir
são fotos de pistolas na cintura e a imagem desbotada de um ex-juiz que alguns
acham respeitável.
Tudo considerado, que Bolsonaro e seus
amigos comemorem 2019, pois os anos que vêm pela frente lhes serão mais
desfavoráveis. A menos, é claro, que o Exército resolva dar um golpe e
entronize o ex-capitão. É ridículo, mas não impossível.
[Este texto não reflete necessariamente a
opinião de CartaCapital.]
*Sociólogo, é presidente do Instituto
Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.
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