Sou
fã de pessoas que dividem o pão, o amor, o conhecimento. Que ajudam os colegas
de trabalho, os amigos, os desconhecidos. Que transmitem o que sabem, sem medo
da competitividade.
Hoje, há muita dificuldade em ver o
outro como alguém confiável, uma vez que a competitividade adentrou todos os
setores de nossas vidas. A concorrência estende-se do mercado de trabalho até
as relações interpessoais, prejudicando as interações humanas e o afeto que deveria estar ali contido.
Numa sociedade que alimenta a
supervalorização do status, atrelado ao que se compra e se tem, em detrimento
do que se é, os sentimentos acabam ficando de lado, uma vez que não mais
importam. Há um jogo de interesses em que o outro se torna interessante, à
medida que é capaz de atender aos quesitos materiais que predominam na
sociedade. A beleza virou cartão de visita, o poder de compra virou qualidade
indispensável, a popularidade social e a virtual viraram sinônimos de sucesso.
Nesse contexto, importa mais o que se
tem a oferecer em termos de conforto material do que o que se tem a oferecer em
termos de afeto verdadeiro.
Mentiras convenientes são mais
valorizadas do que verdades desagradáveis. O eu é dominante na forma como se
vive, ou seja, o que o outro sente parece pouco relevante e isso acaba
prejudicando os relacionamentos entre as pessoas,
tornando-nos cada vez mais frios e distantes uns dos outros, embora tão perto.
Eis um dos motivos de as pessoas terem
medo de compartilhar conhecimento, de dividir o que sabem, de demonstrar
sentimentos, uma vez que aquilo tudo pode vir a ser usado da pior forma
possível por quem recebeu. O outro pode puxar o tapete, revelar segredos, roubar um namorado,
difamar, distorcer, trair. O outro pode ser quem mente, quem usa, quem pouco se
importa com os sentimentos alheios.
Ainda assim, apesar da necessidade de
cautela, olhar o outro em suas necessidades e ajudá-lo, contribuindo para que
ele cresça e melhore, nunca será em vão.
O bem que fizermos sempre ficará na
gente, ou seja, o que o outro resolver fazer com aquilo não será da nossa
conta. Se o outro usar de nossa solicitude de uma forma improvável e
traiçoeira, o erro será dele, ficará nele, não na gente.
Não é à toa que sou fã de pessoas que
dividem o pão, o amor, o conhecimento. Que ajudam os colegas
de trabalho, os amigos, os desconhecidos. Que transmitem o que sabem, sem medo
da competitividade.
A generosidade é uma das mais belas
virtudes do ser humano.
*Marcel Camargo
é Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação"
pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor...
Fonte:
Publicado no site O Segredo
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