Roseli Coelho diz que não foram as
reformas ou medidas liberais que melhoraram a percepção sobre os rumos da
economia, mas medidas intervencionistas, como a liberação do FGTS
Por Redação RBA
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"Medidas absurdas, os erros e vexames" explicam pior aprovação para um presidente em primeiro ano de mandato. (FOTO: ALAN SANTOS/PR) |
São Paulo – Pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (8) mostra que a
aprovação do governo Bolsonaro variou de 29% para 30%, em relação ao último levantamento, publicado em setembro. Os que consideram
o governo ruim ou péssimo caíram de 38% para 36%, e os que avaliam como regular
subiram de 30% para 32%. Jair Bolsonaro é o presidente com a pior avaliação em
seu primeiro ano de governo, comparável apenas ao ex-presidente Fernando Collor
de Mello, que registrava 34% de ruim ou péssimo no mesmo período. Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva registravam desaprovação de 15%,
quando haviam completado um ano de mandato e Dilma Rousseff, 6%.
A “leve” melhora na popularidade do
governo, com oscilações dentro da margem de erro – que é de dois pontos
percentuais para mais ou para menos – está associada à percepção de que a
economia deu “um respiro”, diz a cientista política Roseli Coelho, professora
da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Segundo ela, a melhora “artificial” se
deve não às medidas liberais, mas sim à ações emergenciais de combate à crise,
como a liberação do FGTS. Ela afirma que o crescimento de 0,6% no PIB do segundo para o terceiro trimestre,
divulgado pelo IBGE na semana passada, comemorado pelo governo, se trata de “voo de galinha“. “É importante que a gente entenda que esse
respiro não é uma modificação estrutural, que estariam pondo ordem na casa
e, por isso, começou a crescer. O governo já pensa inclusive em adotar
isenções na folha de pagamento. Provavelmente vão levando assim até o final do
mandato, de susto em susto. Na verdade, está piorando a situação estrutural do
país”, afirmou aos jornalistas Marilu Cabañas e Cosmo Silva, para o Jornal Brasil
Atual, nesta segunda-feira (9).
Bom para empresários
O apoio ao governo é maior entre
empresários (58% de aprovação), os que ganham mais de cinco salários mínimos
por mês (44%), que moram na região sul (40%). Entre os evangélicos
neopentecostais, o apoio chega a 39%, e entre os brancos, 37%. Em
contrapartida, a desaprovação é maior entre os adeptos de religiões
afrobrasileiras (55%), moradores do nordeste (50%), indígenas (50%),
desempregados (48%), pretos (46%) e mais pobres (43%).
Nesta pesquisa, o Datafolha entrevistou
2.948 pessoas em 176 municípios, na quinta (5) e na sexta (6). As entrevistas
foram feitas pessoalmente, em locais de grande circulação.
Para Roseli, esses dados demonstram que
o governo mantém parte da sua aprovação a partir das disputas na esfera
ideológica, ao adotar uma retórica moralista e religiosa, mas que ao mesmo
tempo defende o porte de armas e o direito de matar pelas polícias. Tudo isso combinado com
altas doses de “anticomunismo” e “antipetismo”.
Outra contradição apontada por ela é que
Bolsonaro adota uma política externa baseada na ideologia, enquanto diz
defender as relações com outros países sem “viés ideológico”. O afastamento com
o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernandez, por exemplo, tem
potencial para causar danos econômicos, inclusive para os próprios
empresários que apoiam o presidente.
Outro dado da pesquisa destacado pela
cientista política é o que aponta o aumento de 44% para 50% de reprovação
popular às medidas de combate à corrupção pelo governo. Para Roseli, esse não é
um tema preferencial de Bolsonaro e foi adotado “por inércia”. Agora, “talvez a
ficha esteja caindo”, na medida em que a opinião pública vai tomando
conhecimento dos escândalos envolvendo candidaturas-laranja no PSL, e dos “pequenos escândalos
intrapartidários” que ocorrem no partido que elegeu o presidente.
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