Nenhum ministro que venha para destruir
a educação deve ter paz dos estudantes ou de qualquer um que se preocupe com o
futuro
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O ministro da Educação, Abraham Weintraub (Foto: Fabio
Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)
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O Ministério da Educação sempre foi um
setor estratégico para os projetos políticos gerais dos governos que assumiram
o poder executivo no Brasil. Por vezes um projeto de fortalecimento do
desenvolvimento nacional com a educação no centro da formação emancipatória do
povo brasileiro e da inovação científica, como vimos com Darcy Ribeiro, que
teve seu percurso impedido pelo golpe militar. Em outras vezes, o projeto
colocado foi o de expansão de uma concepção mercadológica e privatista de
educação, como o de Paulo Renato no governo FHC, que fez com que a balança de
matrículas no ensino superior chegasse a quase 90% nas instituições privadas.
Balança esta que só pôde ter uma leve recuperação após o ciclo de expansão e
democratização das universidades e institutos federais durante os anos de 2007
a 2012.
Também em uma virada radical de
hegemonia no campo político, como temos visto com o governo Bolsonaro, o MEC se
torna uma peça fundamental para assentar sua posição na disputa ideológica da
sociedade, buscando inverter valores, revisar concepções políticas e visões
historiográficas que já estavam bastante consolidadas. E na sustentação do
governo Bolsonaro a disputa ideológica, de valores e tradições são eixos
estratégicos. Portanto o campo da educação, neste governo, tem servido até
agora apenas para servir de sustentáculo ideológico do reacionarismo e do
obscurantismo característicos desse grupo político que tomou o poder.
E Weintraub é justamente, para além de
uma figura polêmica e contraditória, a personificação desse programa
conservador e reacionário em que o governo tenta se assentar para manter sua
bolha de aprovação. Isso se evidência na procura incessante do ministro em
apresentar declarações polêmicas, ofensivas e acusatórias contra as
universidades, os professores e os estudantes, mas sem nunca avançar em ações
práticas ou planejamentos estratégicos para sanar os desafios reais que a
educação brasileira ainda enfrenta. Em contraposição às frequentes provocações
às universidades públicas, não há nenhum avanço que se note rumo às metas e
estratégias do PNE, quase nenhum esforço em priorizar o debate do Novo Fundeb e
um péssimo diálogo com reitores e administrações de universidades, com profunda
ineficiência na gestão do repasse das verbas das instituições federais de
ensino superior, o que provocou um ano perdido de crise permanente na educação
brasileira.
Esse ministro é também homem forte de
Bolsonaro, saiu da cozinha do presidente, onde também figuram outros Weintraub,
e que apesar de estar cumprindo um papel de testa de ferro do reacionarismo
ideológico, também tem em suas origens políticas fortes relações com os grupos
da política econômica ultra-neoliberal que absorveram Bolsonaro. Aqui se
localiza uma das grandes contradições, e um símbolo de sua incoerência, pelo
fato de que mesmo após fazer uma tabelinha com Guedes ao sustentar os cortes na
educação e apresentar um projeto de cunho profundamente neo-liberal e privatizante
como o Future-se, Abraham agora tenta se colocar em uma posição de
enfrentamento aos grupos oligopolistas da educação privada, como deixou muito
claro em sua presença na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, por se
sentir ameaçado por esses setores.
Ora, mas é justamente um ministro que
usa de seu posto e da sua referência enquanto pessoa pública para ferir a moral
e a imagem das universidades públicas, construídas com muito suor por muitas
décadas, que contribui para o enfraquecimento da força social dessas
instituições no Brasil e no mundo. É justamente um ministro que bloqueia
verbas, e faz disso uma piada, embaralhando todo planejamento de gestão
financeira das administrações e prejudicando a garantia do financiamento
público, é que contribui para o aumento da evasão estudantil e o sucateamento
das instituições federais de ensino superior.
É justamente esse entrelaçamento de um
projeto de aparelhamento ideológico e de política neo-liberal do MEC que
contribui para o fortalecimento dos oligopólios do ensino privado, para o
desmonte da auto-suficiência da pesquisa brasileira nas instituições públicas e
a entrega total do nosso potencial científico para ou para o obscurantismo ou
para as empresas, sobretudo as estrangeiras.
É nesse sentido que, mesmo atentos aos
anseios agressivos do mercado oligopolista do ensino privado, não devemos temer
em exigir com veemência a demissão de Weintraub do cargo de ministro da
Educação. Primeiro porque falas, entrevistas e declarações, sejam elas dadas a
jornalistas, feitas por vídeo ou em redes sociais, por parte de uma autoridade
de primeiro escalão do governo, não devem jamais ser relativizadas, pois tem um
impacto simbólico relevante na sociedade e que se desdobram em consequências
reais e estruturais. Mas também porque essa postura que unifica um projeto de
instrumentalização ideológica conservadora do MEC e ao mesmo tempo de caráter
privatista e mercadológico só tem a prejudicar nossa educação. E nenhum
ministro que venha para destruir a educação deve ter paz dos estudantes ou de
qualquer um que se preocupe com o futuro do nosso País.
[Este texto não reflete necessariamente
a opinião de CartaCapital.]
*É estudante de Economia da USP e
presidente da União Nacional dos Estudantes.
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