Merece destaque a proposta, aparecida há
pouco, no sentido de que se crie, imediatamente, uma comissão nacional de
personalidades capazes de repensar o Brasil
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Anísio Teixeira |
Sabe-se que, em decorrência de pesquisa
recentemente publicada, a morte do educador Anísio Teixeira não ocorreu no dia
11, mas no dia 12 de março de 1971, segundo consta do laudo do Instituto Médico
Legal encontrado pela Comissão Nacional da Verdade, em 2013.
É o que apresenta o livro Breve
história da vida e morte de Anísio Teixeira (João Augusto de Lima Rocha,
Edufba, 2019), no qual desvenda-se que a morte do educador não se deu em
consequência de uma queda em fosso de elevador, tal como até há pouco se acreditava.
E, por ter ocorrido no dia 12 de março, um dia após seu desaparecimento,
abre-se a possibilidade de ter sido ele assassinado em dependência da
Aeronáutica, no Rio de Janeiro, sendo o corpo levado posteriormente para o
fundo do fosso do elevador, a fim de dar fundamento à farsa da morte devido à
queda. O corpo só foi encontrado no começo da noite de 13 de março de 1971, no
fundo do fosso do elevador social do edifício onde residia Aurélio Buarque, na
Praia de Botafogo, Rio de Janeiro. Anísio havia marcado para almoçar na
residência dele, no dia 11 de março, porém não chegou a seu destino, mas
isso serviu de base para a montagem da farsa da queda, que a imprensa fiel à
ditadura militar fez ecoar imediatamente, sem a mínima comprovação!
É tão expressamente significativa a
contribuição de Anísio Teixeira para a educação nacional, particularmente
para a filosofia e o planejamento educacional, que Florestan Fernandes
declarou o seguinte, no pronunciamento que fez na solenidade de
inauguração da Fundação que leva o nome do educador, em Salvador-BA, dia 21 de
setembro de 1989: “O que havia de fundamental na personalidade de Anísio
Teixeira era o fato de ele ser um filósofo da Educação nascido num país sem
nenhuma tradição cultural, para que florescesse uma personalidade com essa
envergadura e com tal vocação. Foi o nosso primeiro e último filósofo da
educação.”
Nomeado Inspetor Geral do Ensino, na
Bahia, pelo governador Francisco Marques de Góes Calmon, em abril de 1924,
Anísio Teixeira foi aos EUA em 1927, em viagem oficial para conhecer a
Educação daquele país, em grande parte influenciada pelas ideias do educador e
filósofo John Dewey.
Na volta à Bahia, publica seu primeiro
livro: Aspectos Americanos de Educação, no qual relata as visitas
realizadas por indicação do Teachers College da Universidade
Columbia, onde John Dewey pontificava. Além disso, inclui uma rica síntese das
ideias daquele filósofo, cuja extensa obra iria influenciar Anísio por toda a
vida.
O Pragmatismo, escola filosófica de
Dewey, tinha na democracia o fundamento básico para o processo de reconstrução
escolar contínua na sociedade. Com plena autonomia intelectual, Anísio aplicou
criativamente essa compreensão no Brasil, o que lhe valeu dura oposição
das forças conservadoras, e logo o taxaram de comunista.
Sobre a questão da democracia, diz ele:
“Primeiro, a escola deve prover oportunidade para a prática da democracia – o
regime social em que cada indivíduo conta plenamente como uma pessoa. Democracia
na escola importa em democracia para o mestre e democracia para o aluno, isto
é, um regime que procure dar ao mestre e aos alunos o máximo de direção própria
e de participação nas responsabilidades de sua vida econômica. Segundo, como
democracia é acima de tudo o modo moral da vida do homem moderno, a sua ética
social, a criança deve ganhar através da escola esse sentido de independência e
direção que lhe permita viver com outros com a máxima tolerância, sem,
entretanto, perder a personalidade.”
Merece destaque a proposta, aparecida há
pouco, no sentido de que se crie, imediatamente, uma comissão nacional de
personalidades capazes de repensar o Brasil, a fim de que a Nação se encaminhe
para um futuro livre da praga nefasta do bolsotrumpismo, talvez tão grave
quanto a da Covid 19. Sugere-se que as contribuições de Anísio Teixeira, já
aplicadas com sucesso aplicadas em nosso país, até o começo da década de 1960,
em particular os princípios nelas implícitos com sólida base científica e
filosófica, possam muito bem contribuir como elementos iniciais para o duro
trabalho de reconstrução educacional e cultural do país.
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