"A fisionomia de Bolsonaro não
passou o mínimo da seriedade exigida pelo momento. O presidente exibiu em quase
toda a sua fala um sorriso sonso, insolente, absolutamente inadequado. Era como
se estivesse ali com o único propósito de alfinetar seus adversários
preferenciais: a imprensa, a Rede Globo em especial, e os governadores Witzel e
Dória", diz o colunista Ricardo Bruno, sobre o pronunciamento de Bolsonaro
que deixou o país em estado de alerta
*Por Ricardo Bruno
Presidente Jair Bolsonaro
(Foto: Adriano Machado / REUTERS)
O pronunciamento de Bolsonaro foi o
atestado final de sua completa incapacidade de gerir o país. Com conteúdo
impróprio e provocativo, trouxe apreensão ao País, dado o acúmulo de disparates
e vilezas. Ao invés de fazer um chamamento à união dos brasileiros diante da
hecatombe mundial decorrente da pandemia, preferiu mais vez minimizar seus
efeitos, atacar a imprensa e fustigar os governadores que têm adotado postura
responsável.
Entre irônico e cínico, fez alusões
indiretas à Rede Globo, ao conceituado Dráuzio Varela, afirmando que se o vírus
acometesse pessoas como ele, supostamente atleta, teria o efeito “de uma
gripezinha ou resfriadinho, como disse aquele conhecido médico daquela
conhecida televisão”. Em resumo, transformou o pronunciamento, que lhe é assegurado
constitucionalmente em ocasiões especiais, num espaço livre para dar vazão à
mesquinhez e à vilania de seu caráter.
Irresponsável em grau perturbador,
Bolsonaro criticou o fechamento das escolas e afirmou - no momento em que se vê
escalada de casos e mortes - que a vida precisa voltar ao normal. Os
brasileiros não mereciam isto: ver seu presidente em rede nacional expelindo
boçalidades a mancheias. Um espetáculo que entrará para os anais tragicômicos
da política nacional.
Não satisfeito, atacou veladamente os
governadores Witzel e Dória por estarem adotando – corretamente – duras medidas
restritivas. “Algumas poucas autoridades devem abandonar o conceito de terra
arrasada: a proibição dos transportes, o fechamento do comércio e o
confinamento em massa”, disse ele para o espanto dos brasileiros que veem
nestas três medidas alternativas seguras para o abrandamento da
transmissão.
A fisionomia de Bolsonaro não passou o
mínimo da seriedade exigida pelo momento. O presidente exibiu em quase toda a
sua fala um sorriso sonso, insolente, absolutamente inadequado. Era como se
estivesse ali com o único propósito de alfinetar seus adversários
preferenciais: a imprensa, a Rede Globo em especial, e os governadores Witzel e
Dória.
Bolsonaro não falou aos brasileiros com
a grandeza e a responsabilidade de um chefe de nação; fez do pronunciamento
oficial um amontoado de imbecilidades e pequenas provocações; uma peça de
conteúdo impróprio e obscurantista, ao negar a gravidade do momento.
Foi terrivelmente menor do pouco que
ainda se espera dele. Foi perigosamente irresponsável. E tristemente,
insano.
A cada dia, a cada entrevista, a cada
mensagem, Bolsonaro prova que não pode mais continuar à frente do Brasil, sob
pena de destruí-lo irremediavelmente.
*Jornalista político, apresentador do
programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio
Fonte: Publicado no
Brasil 247
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