Advogado entendeu que crises de 2013 a
2018 abriram janela conservadora
Por Kennedy
Alencar
![]() |
Gustavo Bebbiano e Jair Bolsonaro. (Foto: Arquivo/Revista Fórum) |
Sem Gustavo Bebbiano, Jair Bolsonaro não
seria presidente da República. Bebbiano morreu na madrugada de hoje após sofrer
um infarto no Rio de Janeiro.
Advogado, Bebbiano tentou aproximação
com Bolsonaro em 2014 que acabou não indo adiante, mas deixou frutos para uma
parceria a partir de 2017. Essa sociedade política resultou numa estrutura
profissional de campanha para o então deputado federal.
Advogado, Bebbiano entendeu que, no
período de 2013 a 2018, surgira uma oportunidade para um político conservador como
Bolsonaro. As manifestações de 2013, a disputada eleição entre a petista Dilma
Rousseff e o tucano Aécio Neves em 2014, o impacto da Lava Jato na opinião
pública e o impeachment de 2016 criaram condições favoráveis à extrema-direita
no Brasil.
Bebbiano compreendeu bem como embalar
Bolsonaro, que é uma pessoa com limitações intelectuais e políticas. Não só
Bolsonaro tem essas limitações, mas também os seus filhos políticos.
Grande articulador da campanha de
Bolsonaro, ele trouxe alguma sofisticação política ao fenômeno Bolsonaro.
Atraiu o apoio de Paulo Marinho, empresário do Rio de Janeiro que apoiou
Fernando Collor de Mello e cedeu estrutura para o marketing político do
bolsonarismo em 2018.
Nesse contexto, pode ser dito que
Bolsonaro deve sua eleição a uma figura como Bebbiano. O internauta Waltuir
Andrade fez uma observação sobre o comentário na rádio CBN a respeito da morte
de Bebbiano: “Acredito que, sem o Moro, ele não seria com certeza [presidente
da República]”. Andrade está certo. Moro é outra pessoa a quem Bolsonaro deve a
eleição porque condenou Lula a tempo de tirar o petista da cédula eleitoral de
2018.
Voltando a Bebbiano, ele entrou em rota
de colisão com Bolsonaro e os filhos políticos no curto período em que foi
ministro da Secretaria Geral _ficou no cargo menos de dois meses.
Bolsonaro é o que sempre foi. Alguns
políticos e jornalistas imaginavam que, ao virar presidente da República, a
responsabilidade e a liturgia do cargo o mudariam. Mas isso não aconteceu
porque Bolsonaro sempre foi um deputado limitado, algo folclórico no Congresso,
medíocre do ponto de vista da produção legislativa, um político que fez
carreira atacando minorias e defendendo a ditadura militar de 1964 e seus
torturadores.
Entre 2013 e 2018, apareceu uma janela
de oportunidade que permitiu a Bebbiano ser o grande arquiteto da eleição de um
político de extrema-direita, criando condições para que conselhos de Steve
Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, fossem aplicados com eficiência,
estimulando ódio e intolerância no debate público. Bebbiano assumiu a
presidência do PSL e coordenou a campanha eleitoral do atual presidente dentro
desses marcos estratégicos.
Logo no começo do governo, Bebbiano
rompeu com Bolsonaro. Ele criticou o presidente, mas nunca revelou os grandes
podres da campanha bolsonarista, como a máquina de fake news com disparos pelos
WhatsApp. Ele esteve envolvido no centro de uma campanha cujos segredos o
assombravam e ainda podem assombrar o presidente e seus filhos políticos.
De certa forma, revelar esses segredos
significaria atirar no próprio pé. Há rumores de que Bebbiano teria
deixado gravações e cartas com essas informações. Não se sabe se existem de
fato e, se existirem, se virão a público.
De uma ala mais moderada, Bebbiano
pensava num governo que tivesse base parlamentar e boa relação com a imprensa.
Perdeu a disputa interna com os filhos do presidente e morreu quando ensaiava
uma candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB. Ele virou tucano a
convite do governador de São Paulo, João Doria, ex-aliado e hoje adversário
político de Bolsonaro.
*
Laranjal
Em relação ao escândalo dos laranjas,
Bebbiano jogava a responsabilidade para seções estaduais do PSL. Em entrevista à CBN em outubro passado, argumentou que os
valores eram pequenos e serviram a candidatos a deputados federais que criaram
postulantes laranjas a fim de arrecadar mais recursos.
Esse caso continua sendo menosprezado
pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, que não demonstra interesse em
investigá-lo, apesar de ser um paladino do combate à corrupção e símbolo da
Lava Jato.
Fonte: Publicado no Blog do Kennedy
Nenhum comentário:
Postar um comentário