Dias difíceis, medidas extremas. Diante dos imensos e múltiplos desafios impostos pelo advento do novo coronavírus vale a máxima dos Beneditinos: ora et labora. Joelhos ao chão e mãos estendidas na direção de quem sofre. Confiança em Deus e ação diligente, inteligente, amorosa e solidária para zelar pela saúde e bem-estar do mundo.
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(Imagem: Freepik) |
A fé não imuniza. Jesus ensinou que as
chuvas e tempestades e ventos furiosos assolam as casas de todos, bons e maus,
tanto dos que têm a casa edificada sobre a rocha quanto dos que a edificaram
sobre a areia (Mateus 7.24-27). A fé é o recurso para enfrentar a fatalidade,
não licença para agir com desinteligência, imprudência, ingenuidade ignorante,
ou teimosia. Enxergando nuvens no horizonte e sabendo das condições
desfavoráveis à navegação, Paulo, apóstolo, adverte seus companheiros de viagem
dizendo: “vejo que a nossa viagem será desastrosa e acarretará grande prejuízo
para o navio, para a carga e também para as nossas vidas” (Atos 27.7-10).
Aprendi que devemos dar passos de fé, mas por vezes a fé recomenda um passo de
bom senso. Quando os ventos são contrários, fique no porto, não se arrisque sob
pretexto de fé. Isso não é fé, é arrogância, é colocar Deus à prova (Mateus
4.7; Deuteronômio 6.16).
Toda cura é cura divina, inclusive
aquela promovida pela medicina, disse John Stott, teólogo anglicano britânico.
A cisão entre fé e ciência reflete mais ignorância que piedade. Atender às
recomendações das autoridades governamentais, notadamente aquelas orientadas
pelos profissionais da saúde, os especialistas e infectologistas, é uma
expressão de sensatez e também uma forma de honrar a Deus, pois como bem disse
Louis Pasteur, “um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima”.
A igreja é uma comunidade solidária. Não
vive à parte do mundo e da sociedade, e por isso mesmo compartilha tanto as
bem-aventuranças quanto as desventuras de seu povo e seu tempo. Ao despedir-se
de seus discípulos, Jesus orou pedindo “não rogo que os tires do mundo, mas que
os protejas do Maligno” (João 17.15). A esperança e as convicções espirituais
não isentam das responsabilidades e dinâmicas da vida no mundo, e por isso
mesmo o apóstolo Paulo nos recomenda: “exerçam a sua cidadania de maneira digna
do evangelho de Cristo” (Filipenses 1.27).
A igreja tem uma inescapável função
social. A igreja, em suas palavras e ações, seu kerigma e sua práxis,
profetiza, ensina e serve. Walter Brueggemann, teólogo e catedrático do Antigo
Testamento, disse que profetizar não é predizer o futuro, é falar a verdade a
respeito do tempo presente. A verdade de hoje é que enfrentamos uma pandemia e
não podemos ser displicentes nos cuidados necessários à sua superação. A medida
extrema de cancelar as celebrações dominicais presenciais é também um ato
pedagógico, um alerta àqueles ainda negligentes face à gravidade da situação.
Acima de tudo, evitando os grandes ajuntamentos a igreja atua de maneira
responsável e cuidadosa não apenas para com seus frequentadores, como também
para com toda a sociedade.
Dias difíceis, medidas extremas. Diante
dos imensos e múltiplos desafios impostos pelo advento do novo coronavírus vale
a máxima dos Beneditinos: ora et labora. Joelhos ao chão e mãos estendidas na
direção de quem sofre. Confiança em Deus e ação diligente, inteligente, amorosa
e solidária para zelar pela saúde e bem-estar do mundo.
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