'Segundo memorando da inteligência dos EUA, o ditador manteve a ordem de
assassinato de opositores do regime instituída pelo antecessor Emilio
Médici'
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Por ordem de Geisel, Figueiredo decidia quem era "perigoso" e deveria morrer |
Um memorando da CIA
datado de 11 de abril de 1974 revela que o ditador Ernesto Geisel
autorizou a manutenção da “política de execuções sumárias” iniciada por
seu antecessor, Emilio Garrastazu Médici. Os alvos eram opositores do
regime, os "subversivos".
Sob Geisel, a coordenação das ações foram centralizadas no Palácio do
Planalto, por meio do Serviço Nacional de Informação, comandado por João
Baptista Figueiredo, mais tarde sucessor de Geisel na presidência da
República. Cabia a Figueiredo decidir se um preso pelos órgãos de
repressão do Estado era "perigoso" e deveria morrer.
O documento foi encontrado por Matias Spektor, professor de Relações
Internacionais da Fundação Getulio Vargas, e divulgado pelo site Opera Mundi.
O relatório foi enviado em abril de 1974 por William Egan Colbim,
diretor da CIA entre 1973 e 1976, para o então secretário de Estado dos
EUA, Henry Kissinger. Colbim descreve o encontro entre Geisel,
que assumira a presidência em 15 de março de 1974, os generais Milton
Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, ex e novo chefe do
Centro de Inteligência do Exército, e o general Figueiredo.
Descreve o memorando: “Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao
general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que muito
cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos
perigosos fossem executados. O presidente e o general Figueiredo
concordaram que quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar
nessa categoria, o chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja
aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada”.
Leia a íntegra do documento:
Memorando do diretor da Agência Central de Inteligência Colby para o secretário de Estado Kissinger
Washington, 11 de abril de 1974.
Assunto: Decisão do presidente brasileiro Ernesto Geisel de
continuar a execução sumária de subversivos perigosos sob certas
condições
1. [1 parágrafo (7 linhas) não desclassificado]
2. Em 30 de março de 1974, reuniu-se presidente do Brasil,
Ernesto Geisel, com o general Milton Tavares de Souza (chamado de
general Milton) e o general Confúcio Danton de Paula Avelino,
respectivamente o chefe que sai e o que entra do Centro de Informações
do Exército (CIE). Também esteve presente o general João Baptista
Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).
3. O general Milton, que falou durante a maior parte do tempo,
detalhou o trabalho da CIE contra os alvos subversivos internos durante a
administração do ex-presidente Emilio Garrastazu Médici. Ele ressaltou
que o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e que os
métodos extralegais devem continuar sendo usados contra subversivos
perigosos. A este respeito, o general Milton disse que cerca de 104
pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pelo CIE durante o
ano passado, ou pouco antes. Figueiredo apoiou essa política e insistiu
em sua continuidade.
4. O presidente, que comentou sobre a seriedade e os aspectos
potencialmente prejudiciais desta política, disse que queria refletir
sobre o assunto durante o fim de semana antes de chegar a qualquer
decisão sobre sua continuidade. Em 1º de abril, o presidente Geisel
disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que
muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos
perigosos fossem executados. O presidente e o general Figueiredo
concordaram que quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar
nessa categoria, o chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja
aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O presidente e
o general Figueiredo também concordaram que o CIE deve dedicar quase
todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral do CIE
será coordenado pelo General Figueiredo.
5. [1 parágrafo (12½ linhas) não desclassificado]
6. Uma cópia deste memorando será disponibilizada ao Secretário
de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos. [1½ linha não
desclassificada]. Nenhuma distribuição adicional está sendo feita.
Fonte: Publicado na Carta Capital
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