Veja taxou Lula de chefe de organização criminosa e outros adjetivos. Foi absolvida, em nome da liberdade de imprensa.
Todos os abusos da Lava Jato são tolerados, em nome do utilitarismo
da luta anticorrupção. Os jornais conseguiram blindar de tal forma a
operação, que hoje em dia há procuradores afrontando o próprio Supremo
Tribunal Federal.
A única resistência ao poder avassalador da Lava Jato vem dos blogs jornalísticos. Foi graças a eles que houve uma parada na milionária indústria da delação premiada, a ponto de procuradores abrirem mão da delação de Antônio Palocci, e montarem uma gambiarra, transferindo para a Polícia Federal, depois de reportagens investigativas mostrando a pouca transparência da relação Sérgio Moro – procuradores – advogados de delatores.
A forma da Lava Jato calar os dissidentes é através de processos judiciais, todos correndo nas varas de Curitiba. No momento, recebi a terceira condenação em três processos abertos por três delegados da Lava Jato, cada qual resultando em condenações de R$ 10 mil para cima.
Ao mesmo tempo, criou-se uma lucrativa indústria da fotografia no
Judiciário paranaense. Abrem-se ações pelo uso de fotos da Lava Jato por
blogs. As fotos originais não devem ter custado mais de R$ 500 reais
para o veículo original. No caso de reprodução, as condenações chegam a
R$ 10 mil, invocando um suposto “dano moral” ao fotógrafo.
Aliás, é demonstração cabal que o risco maior de abusos não está no
Ministério Público Federal, mas nos grupos que politizaram a Polícia
Federal. E não apenas por lá.
No Rio de Janeiro, um desembargador me condenou a R$ 20 mil, por
difamar a imagem de Eduardo Cunha. Em Brasília, correm três processos de
Gilmar Mendes, por difamação. Em São Paulo, outros cinco da revista
Veja.
Quando Carlos Ayres Britto, o então presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal) criou uma comissão de liberdade de imprensa, no âmbito
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), fui até ele explicando que a
maior ameaça das ações judiciais era contra o jornalismo independente,
sem a estrutura jurídica e os recursos das grandes organizações. De nada
adiantou, como de nada adiantaram as promessas da então presidente
Carmen Lúcia de abrir uma representação no tal conselho para os blogs
jornalísticos que fazem o contraponto.
Foi em vão. Sua intenção não era defender a liberdade de expressão, mas fazer bonito para os jornalões.
Esses blogs são fundamentais para a democracia, pois exercem uma
fiscalização em áreas não cobertas pela mídia tradicional. Mais, fazem o
contraponto narrativo a notícias divulgadas pela própria mídia, abrindo
o leque de interpretações de fatos, diversidade essencial para a
consolidação da democracia. Não seria exagero considerar que alguns
desses blogs e portais praticam o melhor jornalismo investigativo da
atualidade. Vide as descobertas sobre a própria Lava Jato, território
considerado tabu pela mídia.
Se liberdade de imprensa fosse um valor maior, a própria velha
mídia estaria saindo em defesa do jornalismo praticado pelos blogs. Mas
valores, nessa terra selvagem, são meros instrumentos para defesa de
interesses de grupos. Não houve um pio quando a primeira medida do
governo Michel Temer foi a de um veto ideológico na publicidade das
empresas públicas.
E a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), ora a Abraji.
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