Por Daniela Fernandes
De Paris para a BBC News Brasil
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Para OCDE investimentos em 'quantidade' de professores são geralmente feitos em detrimento da qualidade do ensino. Imagem: Pedro Ribas/ANPR |
O Brasil possui um dos maiores números de alunos por sala de aula no ensino médio entre mais de 60 países analisados no estudo Políticas Eficazes para Professores: Compreensões do PISA, publicado nesta segunda-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
De
acordo com o documento, as escolas públicas do Brasil têm 37 alunos por
sala de aula no primeiro ano do ensino médio e têm também um dos
números mais elevados de alunos por professor, 22. Os dois dados têm
influência direta sobre o volume de trabalho dos professores e da
qualidade de ensino.
O número de alunos por professor só é maior na Colômbia, que acaba de entrar para a OCDE, com 27.
Na
China, país mais populoso do mundo, há apenas 12 alunos por professor.
Em compensação, a China tem, em média, 46 alunos por sala de aula. Pior
que a China no estudo, só a Turquia: 48. Mas o país só tem 14 alunos por
professor.
"Classes menores são frequentemente vistas como benéficas porque elas
permitem que o professor se focalize mais nas necessidades individuais
dos estudantes", diz o estudo.
Segundo a OCDE, é preciso reduzir o
tamanho da sala de aula e aliviar a carga horária de ensino do
professor, ampliando dessa forma o tempo que esse passa preparando
aulas, em orientação pedagógica (tutoria) ou atividades de
desenvolvimento profissional. E, para isso, uma solução seria aumentar o
número de professores.
"Os sistemas de educação precisam
determinar quantos professores são necessários para oferecer uma
educação adequada para seus estudantes", diz a OCDE.
No Brasil,
problemas de salas de aula lotadas, jornadas duplas de trabalho, com
carga horária excessiva, são enfrentados por muitos professores e
provocam desgastes em relação à profissão.
O PISA, no qual se
baseia o relatório divulgado nesta segunda, é um vasto conjunto de
estudos internacionais que visam medir o desempenho de sistemas
educacionais de países membros e não membros da OCDE, como o Brasil.
O PISA é realizado com jovens na faixa de 15 anos, o que corresponde ao primeiro ano do ensino médio.
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Há mais professores alocados a escolas com alunos em condições socioeconômicas baixas, mas nem sempre o resultado é melhor qualidade do ensino. Imagem: André Nery/ MEC |
O estudo Políticas Eficazes para Professores diz ainda que a
maioria dos países do PISA tem alocado mais professores a escolas
consideradas desfavorecidas - onde há mais alunos com condições
socioeconômicas mais baixas - para compensar as desvantagens na
comparação com escolas onde estudantes têm mais poder aquisitivo.
Mas
isso nem sempre resulta em melhor qualidade do ensino, diz a OCDE.
Isso porque, geralmente, "professores nas escolas mais desfavorecidas
são menos qualificados e têm menos experiência" do que nas instituições
com condições superiores, ressalta a organização.
Na prática, diz a
organização, os efeitos positivos de aumentar o número de professores
nas escolas desfavorecidas são minados se não for levada em conta a
questão da qualidade do professor.
"Os estudos têm mostrado que
investimentos na quantidade de professores são geralmente feitos em
detrimento da qualidade do ensino", ressalta a OCDE.
"Estudos
revelam que professores com qualificações mais fracas são mais propensos
a ensinar em escolas desfavorecidas, o que pode levar a um potencial
menor de oportunidades educacionais para estudantes dessas escolas",
afirma o documento.
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No Brasil, 60% dos professores com menos qualificação educacional tendem a trabalhar mais em pequenas cidades, de acordo com estudo. Imagem: PeopleImages / Getty |
Especialização
O estudo, que
enfatiza a importância do ensino de alta qualidade para reduzir as
desigualdades sociais, também revela que apenas 29% dos professores de
ciências no Brasil têm especialização na área.
Em países como a
Finlândia, que estão entre os que apresentaram os melhores resultados do
teste do PISA na área de ciências, a proporção de professores
especializados nessa disciplina nas escolas públicas do país é 83%.
"Alguns
estudos têm mostrado que alunos que aprendem com professores com
formação específica em uma área têm melhores performances na
disciplina", afirma a OCDE.
Como o último PISA focou na área de ciências, os dados sobre a especialização dos professores dizem respeito à área.
"Quanto
maior a diferença de qualificação dos professores de ciências entre
escolas desfavorecidas e favorecidas, maior também é a diferença da
performance em ciências entre estudantes na base e no topo do status
socioeconômico."
No Brasil, 60% dos professores com menos
qualificação educacional tendem a trabalhar mais em pequenas cidades,
afirma outro estudo da OCDE divulgado nesta segunda-feira, Professores em Ibero-América: Compreensões do PISA e do Talis.
"No
Brasil, professores não especializados em ciências em escolas
desfavorecidas ensinam assuntos que não estavam incluídos em sua
formação ou programa de qualificação com mais frequência do que
professores não especializados em escolas favorecidas."
O estudo
específico sobre países ibero-americanos também nota que a demanda por
professores aumentou na região devido ao rápido crescimento do número de
estudantes matriculados, sobretudo na América Latina, em razão de um
maior acesso à educação.
Em resposta à essa demanda, "os requisitos para ingressar na profissão docente foram reduzidos", afirma o documento.
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No Brasil, apenas pouco mais de 10% dos professores acham que a profissão é valorizada pela sociedade. Imagem: Alexey Rumyantsev / Getty |
Isso fez com que a profissão começasse a ser desvalorizada, vista
como um ofício de poucas exigências e baixa qualificação, acrescenta a
organização.
No Brasil, apenas pouco mais de 10% dos professores acham que a profissão é valorizada pela sociedade.
Entre
2003 e 2015, mais de 493 mil novos alunos no Brasil foram somados ao
total da população estudantil de 15 anos, um aumento de 21%.
A
expansão das matrículas, diz a OCDE, se deve a melhoras na capacidade
para manter os alunos no sistema de ensino à medida que eles progridem a
níveis superiores.
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