Por Arnóbio Rocha
“Te perdoo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdoo
Por te trair” (Mil Perdões – Chico Buarque)
Quando eu choro de rir
Te perdoo
Por te trair” (Mil Perdões – Chico Buarque)
Antes de procurar responder essa proposição, vamos
falar de quem perdeu com a prisão de Lula.
O maior derrotado é o Judiciário, em especial a
lavajets, com seus midiáticos juízes, procuradores e delegados da Polícia
Federal.
Todo o plano deu errado, o ápice dele era a prisão
desmoralizante de Lula, custasse o que custasse, esqueçam regras de processos,
estado de direito, ampla defesa, verdade factual e, provas, as convicções e a
comoção bastaria para julgar e condenar.
Entretanto, a apoteótica cena final em São Bernardo
do Campo, a resistência do acampamento, as manifestações em todos os lugares do
mundo, tratando o julgamento/prisão como parte de um golpe jurídico sem base
legal, sendo visto o ex-presidente como “preso político” e não um condenado comum,
pôs por terra a farsa.
Aliás, há um incômodo surdo, pois não se sabe o que
fazer agora.
Para piorar, os índices de avaliações pessoais e de
intenções de votos de Lula, não apenas cresceram, como se consolidou como a
única força real se houver eleições livres.
A soma de 13 candidatos não chega aos números de
Lula, um feito inédito que se cristaliza na inacreditável popularidade de um
personagem massacrado diariamente pela mídia
Uma perseguição constante de mais de 40 anos,
especialmente nos últimos três, o tudo ou nada, a luta sem trégua da grande
mídia contra Lula, faz dela o segundo tripé dos grandes derrotados.
O último pé é o combalido governo Temer, fruto do
casamento de mídia mais Judiciário, que levou ao clima de ruptura da continuidade
democrática. Arrisca ficar na mesma situação de Sarney, em 1989, de quem todos
fugiam do apoio.
Quem “ganha” com a prisão de Lula?
A parte espinhosa é essa, há um sentimento de que
uma grande injustiça foi praticada, mas contraditoriamente há uma maior
aceitação e visão da importância de Lula como a maior figura pública do Brasil,
desde Getúlio Vargas.
As maquinações por sua queda começam a apresentar
um efeito oposto ao esperado.
O que parece óbvio é que um setor da direção do PT
e das esquerdas em geral, ainda que inconscientes, depois do desespero da
prisão de Lula, trabalha com certo pragmatismo de que não foi de toda ruim.
As razões elencadas acima explicam em parte,
inclusive, a baixa combatividade por sua liberdade, quer seja no campo
político, quer seja no campo jurídico.
Aqui não se trata de acusar ou apontar o dedo para
ninguém, apenas constatação do óbvio.
Desde a prisão de Lula, boa parte dessa direção
política se esvaziou ou ficou perdida, sem um norte claro, os mais realistas
tratam de fazer suas campanhas eleitorais, como se o acontecimento terrível
fosse acidente de percurso, de que nada muda o cenário, os atos de lançamentos
de campanhas estão acontecendo sem muita cerimônia.
Os frutos, inesperados, conseguidos com essa
silenciosa comoção, expressados nas pesquisas, especialmente nos setores que
estão sendo mais atingidos pelo golpe, também amortecem uma reação firme e
cabal, que ponha fim ao absurdo processo contra Lula.
Inclusive porque o cumprimento antecipado da pena,
sem trânsito em julgado, poderia/deveria também antecipar as medidas para pedir
a rescisão dos efeitos da condenação.
Outra ação massiva de levar as pessoas à defesa
efetiva do ex-presidente também seria possível e necessária, não como ação da
sua defesa técnico-jurídica, mas abraçada pelos partidos, pelos sindicatos e
movimentos sociais, com pedidos de sua liberdade diante da decisão quase que
exclusiva para um único personagem, dentro da lógica de punição seletiva.
Por que não se fez? É por uma acomodação política,
fratura da direção, ou há um pragmatismo de que não seja tão catastrófica a sua
prisão?
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