'Juiz da Lava Jato abriu mão de processo que atinge governo Richa
envolvendo propinas que equivalem a mais de 30 unidades do triplex
atribuído a Lula'
Por Cíntia Alves
Em meados de 2016, em passagem pelos Estados Unidos, Sergio Moro
disse que não julgou casos relacionados ao PSDB porque investigações que
atingem o partido não chegaram até ele em forma de acusação. Pois,
agora, essa desculpa cai por terra.
Ontem (11), o juiz da Lava Jato desistiu oficialmente de julgar uma
ação penal que atinge nomes do governo Beto Richa (PSDB), no Paraná.
Para isso, alegou que está muito ocupado julgando os casos da Lava Jato
derivados do esquema na Petrobras.
O argumento do juiz é questionável por dois motivos: primeiro
porque ele tem encontrado bastante tempo para viagens internacionais.
Foi, inclusive, duramente criticado pelo jornalista Kennedy Alencar por
causa dessa sanha com holofotes. Em segundo lugar, há 7 meses era Moro
quem fazia questão de abraçar a ação penal.
Em novembro de 2017, Moro argumentou que era o juiz prevento do
caso porque vislumbrou o envolvimento de dois investigados da Lava Jato:
Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran. Os dois teriam operado lavagem de
dinheiro para os integrantes do esquema de corrupção que funcionou logo
abaixo do nariz do governador Beto Richa.
Tacla Duran e Moro rivalizam publicamente desde que o ex-advogado
da Odebrecht decidiu denunciar à imprensa a cobrança, por parte de
Carlos Zucolotto (advogado e padrinho de casamento de Moro) de 5 milhões
de dólares em propina, com a finalidade de "melhorar" um acordo de
delação premiada com os procuradores de Curitiba.
Moro, numa dobradinha com o Ministério Público Federal, extraiu
Duran - que é considerado um "foragido" na Espanha - do processo que
envolve servidores do governo Richa com a desculpa de não atrasar o
julgamento dos demais réus. O delator da indústria da delação premiada ganhou um procedimento paralelo. Isso ocorreu há cerca de 1 mês.
No documento assinado ontem, Moro não diz o que fará com este
processo de Duran, mas manda sortear as acusações contra os agentes do
governo Richa para outras varas em Curitiba.
No despacho em que se declara incompentente para julgar a denúncia,
Moro resume as acusações: o grupo Triunfo, incluindo a Econorte
(Empresa Concessionária de Rodovias do Norte), concessionária da
exploração de rodovias federais no Paraná, teria efetuado propina a
servidores de Richa.
Os beneficiados foram o então diretor do DER (Departamento de
Estradas e Rodagens) Nelson Leal Júnior, Oscar Alberto da Silva Gayer e
Gilson Beckert (ambos também do DER) e o ex-braço direito de Richa, o
então chefe da Casa Civil Carlos Felisberto Nasser.
Nelson Leal é, segundo Veja, "homem de confiança de Richa". O DER,
onde era diretor à época dos fatos denunciados, é subordinado à
Secretaria de Infraestrutura e Logística (SEIL), comandada por José
Richa Filho, irmão de Beto.
José Richa, aliás, teria indicado Nelson Leal para o cargo no DER.
Ele teria recebido um apartamento de luxo como pagamento de propina. Sua
defesa é feita por uma das bancas mais atuantes na Lava Jato, dos
advogados Tracy Reinaldet e Gustavo Sartor - o primeiro era sócio de Adriano Bretas.
Segundo Moro, na denúncia ainda constam "diversos crimes de
peculatos e fraudes havidas na exploração das rodovias federais no
Paraná, com a apropriação de recursos obtidos na concessão mediante a
simulação de despesas fictícias."
Para lavar o dinheiro que foi entregue em espécie aos agentes do
governo Richa, o grupo Triunfo fez depósitos nas contas de empresas de
Adir Assad, em valores que somam R$ 79 milhões. Dá para comprar mais de
30 unidades do triplex atribuído a Lula pela Lava Jato com este
montante.
A mesma operação se repetiu em outros momentos com empresas de
Tacla Duran, diz Moro, sem que existam provas de que o escritório do
advogado tenha prestado serviços pelos pagamentos que somam quase R$ 6
milhões.
"Pela denúncia, a causa dos pagamentos subreptícios efetuados pelo
Grupo Triunfo aos agentes públicos estaduais seriam favores por ele
obtido na exploração das rodovias federais no Paraná. Da mesma forma, as
condutas de peculato estariam relacionadas à apropriação de recursos
obtidos na concessão mediante a simulação de despesas fictícias pela
concessionária."
Se o modus operandi da Lava Jato em Curitiba fosse aplicado neste
caso, não estaria Beto Richa encrencado por manter e avalizar a
indicação de funcionários da DER que praticaram irregularidades?
Fonte: Publicado no Jornal GGN
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