Por Luis Nassif
Desde seus tempos iniciais em política, Henrique
Cardoso se perdeu pela falta de coragem e excesso de oportunismo. De certa
forma ele lembra CFOs de uma empresa, que se preocupam exclusivamente com o
próximo balanço trimestral e em preparar as desculpas para a assembleia de
acionistas.
Não cometeria a indelicadeza de compará-lo ao
ex-Ministro Cristovam Buarque, que é um FHC sem nenhuma sutileza intelectual.
Também não gosto de reduzir os grandes conflitos públicos aos fatores pessoais,
aos pequenos sentimentos de inveja, arrogância, prepotência, tão ao gosto dos
diagnósticos de redes sociais.
Mas, em FHC, há algumas características de caráter
nítidas como prego em vinil, essenciais para entender suas atitudes.
A primeira é a abulia, a falta de vontade absoluta
em intervir na realidade social ou política. Sua única lógica é abrir a
economia para os grandes capitais e esperar como resultante a geração
expontânea de uma corte renascentista. É típica de um certo tipo de intelectual
que, ascendendo a uma posição política, ganha um gramofone de tal potência, que
o transforma em demiurgo das frases feitas. O intelectual precisa de
pensamento. Ao demiurgo, basta apenas os bordões e a fé. Em graus distintos,
são da mesma natureza FHC, Carmen Lúcia, Ayres Brito, Luís Roberto Barroso e
seu guru Flávio Rocha, Cristovam Buarque.
A segunda é a inveja, na sua expressão mais
comezinha. Na campanha de 2002, José Serra, candidato do PSDB, acusava FHC de
boicotá-lo com receio de sua sua gestão ofuscasse a dele e sabendo que, com
Lula, o desastre seria tal que o povo o chamaria de volta. Quem passou a
conhecer Serra – e FHC conhecia-o como a um filho – sabia que sua desconfiança
era infundada. Mas Serra conhecia profundamente a alma do parceiro-padrinho
para identificar os sentimentos preponderantes.
O artigo de FHC no Estadão de hoje, “Decifra-me ou te devoro” é uma reedição do velho
FHC. Traz um diagnóstico óbvio - a necessidade de um pacto que organize o
centro -, em cima de um sentimento óbvio – o cansaço de parte da opinião
pública com a radicalização e a falta de um candidato competitivo em seu campo.
Quando o sentimento óbvio da turba era a de
massacrar os adversários, lá vinha FHC acendendo a pira. Quando era o de cantar
o Hino Nacional, lá surgia ele abraçado a Aécio Neves e José Serra, berrando a
plenos pulmões. Quando Lula foi preso, lá foi ele avalizar a prisão, logo ele
que, mal saído da cadeira de presidente adquiriu um apartamento por um terço do
valor de mercado..
Agora, a prisão de Lula alçou-o à condição de preso
político, conferindo-lhe uma dimensão de martírio similar ao de outros grandes
pacificadores do século 20. É óbvio ululante que qualquer pacto nacional teria
que passar pela libertação de Lula e pelo fim da perseguição política a que
está submetido.
Mas FHC jamais conseguiu atender ao último desejo
do amigo Sérgio Motta, que lhe implorava: não se apequene. Um ego gigantesco em
uma alma pequena.
Fonte: Publicado no Jornal GGN
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