'Se fosse Lula, seria acusado de chefiar organização criminosa'
Por Kennedy Alencar
A Lava Jato deveria ter investigado os e-mails que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso enviou ao então presidente da Odebrecht,
Marcelo Odebrecht, pedindo dinheiro para candidatos do PSDB nas eleições
de 2010.
No mínimo, os investigadores da operação de combate à corrupção
desprezaram indícios suficientes para uma averiguação. Se o
ex-presidente Lula tivesse enviado mensagens parecidas a Marcelo
Odebrecht, elas seriam interpretadas como provas para acusá-lo de
chefiar uma organização criminosa para pedir dinheiro à empreiteira.
Na troca de e-mails entre FHC e Marcelo Odebrecht, revelada pela revista “Veja”,
o tucano diz ter enviado um “SOS” eleitoral. O empreiteiro responde:
“Fique tranquilo (no que depender de nós). Depois, aproveito e lhe dou o
feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que
conversamos”.
Noutra mensagem enviada por FHC, a linha de assunto é “o de sempre”.
O ex-presidente respondeu às revelações: “Posso ter pedido, mas era
legal. Não sei se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na
época eu estava fora dos governos, da República e do estado”.
Levando em conta o padrão de indícios que a Lava Jato tem considerado
suficientes para investigar, denunciar e condenar, há fatos que
justificariam um interesse da operação nessa troca de e-mails.
Numa mensagem, Marcelo Odebrecht deixa claro que falou de “apoios e
reforços que fizemos na linha do que conversamos”. Ou seja, há evidência
de que o tucano e o empreiteiro tiveram conversa mais ampla sobre
financiamento.
O “de sempre” parece piada pronta. É indício de que tratativas financeiras seriam frequentes.
Há uma série de perguntas que a Lava Jato poderia ter tido interesse
em responder. Essas contribuições foram dadas? Foram caixa 1? Foram
caixa 2? Foram propina do “Departamento de Operações Estruturadas”?
Estão declaradas nas prestações de contas de Antero Paes de Barros e de
Flexa Ribeiro, então postulantes ao Senado Federal? Houve pedido de
contrapartida? Havia expectativa de contrapartida?
No entanto, pelo que se sabe até agora, a Lava Jato não se interessou
pelo assunto, em mais uma demonstração do uso de dois pesos e duas
medidas. Um exemplo disso? Sergio Moro decidiu divulgar ilegalmente um
grampo de uma conversa entre Lula e Dilma baseado em indícios de que a
indicação do ex-presidente para a Casa Civil seria uma manobra para dar
foro privilegiado ao petista e livrá-lo de responder perante o juiz
federal de Curitiba.
*
Ruim para Alckmin
A revelação dessa troca de mensagens tem efeito eleitoral negativo
para a pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), que já enfrenta um mau
momento.
É mais um evidência de que não se sustenta o discurso de que a
corrupção tucana seria diferente da petista. O imbróglio enfraquece a
imagem do PSDB, assim como aconteceu com o PT diante do que se descobriu
na Petrobras.
Fonte: Publicado no Blog do Kennedy
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