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Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). |
Bolsonaro não é
um governante, mas apenas um homem atormentado que pensa gerenciar o Brasil
pelo Twitter e pelo WhatsApp. Ele e os filhos foram destruídos por um erro
primário da política. Atacaram sem parar, desde que a família chegou ao poder,
e provocaram guerras que não irão ganhar nunca.
Algumas
perguntas que, num ambiente de racionalidade, mereceriam respostas. A primeira:
se estavam envolvidos com milícias e se construíram uma fortuna imobiliária
suspeita, para falar apenas de dois aspectos da vida complicada que vinham
mantendo, por que os Bolsonaros acharam que seriam intocáveis só por terem
chegado ao poder?
Se sempre se
envolveram em atividades que um dia seriam investigadas, por que os Bolsonaros
compraram briga com aliados, com o Ministério Público, com adversários que não
conseguirão dobrar, sempre de forma agressiva?
Por que os
Bolsonaros, desde o famoso discurso da vitória na Avenida Paulista, em que
Bolsonaro ameaça perseguir e eliminar os adversários, não baixaram as armas?
Por que desde o início do governo atacam até os generais do primeiro escalão?
Que incapacidade
é essa dos Bolsonaros de calibrar o enfrentamento com quem consideram inimigos?
Que insegurança move os Bolsonaros?
E aí há outro
detalhe importante. Bolsonaro jogou os filhos na guerra. Empurrou Carlucho para
o confronto virtual. Transformou o filho vereador no formulador das agressões
pelas redes sociais e em seu porta-voz oculto.
Atiçou Eduardo,
o outro filho deputado federal, contra inimigos internos e externos e tentou
transformá-lo em ajudante do golpe na Venezuela.
Eduardo
preparou-se, na última tentativa de golpe, para entrar em Caracas como herói da
direita latino-americana, O pai o empurrou para uma guerra de trapalhões.
Bolsonaro também
desfruta da capacidade empreendedora do outro filho, o chefe de Queiroz, o
filho que abastece, via laranjas, até a conta de Michelle Bolsonaro. Flávio é o
filho que faz dinheiro.
O Ministério
Público já tem pistas de que a quadrilha em torno de Flávio Bolsonaro era coisa
de família. A família dele, a família de Queiroz, as famílias dos milicianos do
entorno.
Bolsonaro puxou
os filhos na política (ao contrário do que Lula sempre evitou) para tê-los como
seus principais pensadores e operadores. No governo, o projeto se materializou
com a distribuição de tarefas.
Mas deu tudo
errado. Carlucho era competente para disseminar fakenews, mas não para ser
propositivo, para vender ideias, por mais furadas que fossem. Era um blefe, ou
já teria acionado um plano para salvar a imagem do pai abandonado.
O filho que se
apresenta como pretendente ao posto de líder da direita (ou da extrema direita
mesmo) da América Latina parece ser o mais perigoso de todos. Mas é também o
mais tomado pelo autoengano, pela ilusão de que lidera alguma coisa, incluindo
a ideia mais recente de que o Brasil deve ter a bomba atômica.
E o filho mais velho,
o negociante, já é um zumbi no Senado. Antes mesmo das conclusões do Ministério
Público, que podem levar meses, está destroçado politicamente como chefe de uma
gangue que não só saqueava recursos públicos via assessores laranjas, mas
lavava dinheiro com imóveis e outros rolos.
Bolsonaro meteu
os filhos numa fria. Podem dizer que todos são adultos e homens públicos e
sabiam o que estavam fazendo. Mas foi o pai quem puxou a família para o seu
delírio extremista de que governaria com o lastro dos militares perseguindo
inimigos, minorias, professores, artistas, estudantes, índios, enquanto
mantinham as conexões com os milicianos.
Não há saída
para Bolsonaro nem para os filhos, que poderão sobreviver como políticos (a
classe média reaça e a ignorância por ela manobrada têm eleitores de sobra para
eles) e ainda manter o aparelhamento de setores do governo. Mas nunca mais
serão como antes.
Os Bolsonaros
venceram a eleição, mas perderão todas as guerras que provocaram, as reais e
também as imaginárias.
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