Publicado originalmente no Facebook do autor
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Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, cientista político e ex-Ministro da Fazenda |
O governo
Bolsonaro não chegou a começar e já acabou. Os últimos cinco meses não foram de
governo, mas de desgoverno. Que chegou ao paroxismo nos últimos dias, quando o
presidente decidiu colocar “os seus 58 milhões de voto” contra o poder
legislativo e o poder judiciário.
Há tempo
estava claro que Bolsonaro confundia o ato de governar como a emissão de
twitters de extrema-direita – que sua principal tarefa como presidente era
conservar o apoio de seus eleitores. Agora está claro que é mais do que isso.
Que, com isso, ele quer mostrar que o Brasil é “ingovernável” – ao menos para
ele que se recusa a fazer acordos políticos. Mas nós sabemos que na democracia
governar é fazer compromissos para conseguir a maioria. Assim, ao recusar a
fazer acordos e ao convocar seus apoiadores para uma manifestação pública
contra “essa política que está aí”, ele está convocando “o povo” para um golpe
de Estado.
Bolsonaro
está enganado. Seus apoiadores não são 58 milhões mas uma pequena faixa de
pessoas conservadoras de extrema-direita. Sua convocação não levará para as
ruas no próximo dia 26 os milhares de manifestantes que ele espera. Grande
parte dos que nele votaram o fizeram porque se recusavam a votar em um
candidato do PT, e hoje já perderam esperanças em relação a seu governo-desgoverno.
Por outro lado, as elites neoliberais, que o apoiaram porque ele prometia
realizar suas tão desejadas reformas, já perceberam que não contam com ele para
fazê-las avançar. Mas que a reforma da Previdência será aprovada, porque o
Centrão e o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia já decidiram
levá-la adiante independentemente do Planalto.
Governar é
ter um objetivo e ser capaz de argumentar a favor dele; é fazer os compromissos
para obter maioria na sociedade e no Congresso. Bolsonaro não tem um projeto de
desenvolvimento; não pode, portanto, argumentar e fazer compromissos para
levá-lo adiante. Governar depois de uma eleição, que naturalmente é divisora, é
buscar unir a sociedade. Bolsonaro age por uma divisão ainda maior.
Em um momento
de estagnação econômica no qual é urgente adotar uma política contracíclica
para interromper o aumento do desemprego, Bolsonaro ignora o problema, enquanto
seu ministro da economia, Paulo Guedes, não para de agravá-la ao realizar uma
política irresponsável de corte de investimentos. Dado o desequilíbrio fiscal,
é legítimo que corte a despesa corrente e lute pela reforma da Previdência, mas
não pode deixar a economia brasileira mergulhar na estagnação cortando os
investimentos. Ao invés, deveria estar realizando um grande esforço para
aumenta-los.
Bolsonaro
não para de abrir frentes contra ele. Na economia, na educação, na saúde, na
ciência e tecnologia. E se tornou desnecessário senão um empecilho para
realizar as reformas econômicas – algumas das quais, necessárias. Ele nada tem
mais a fazer em Brasília. É um estorvo. O melhor serviço que pode fazer ao
Brasil é renunciar.
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