"A recusa da Petrobras em abastecer
dois navios atracados em Paranaguá é apenas o primeiro passo de uma diplomacia
que perdeu a soberania nacional como principal referência", escreve Paulo
Moreira Leite, articulista do 247; "O destino será rebaixar-se cada vez
mais, sempre, até transformar o mais influente país da América do Sul numa
irrelevância geo-política"
Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia
Ao assumir publicamente a vocação de
capacho diplomático, sempre a disposição para ser pisoteada por Donald Trump,
a diplomacia de Jair Bolsonaro confirma que não há limites para quem não
reconhece a soberania nacional como referência. O destino sempre será
rebaixar-se cada vez mais.
A adesão ao bloqueio norte-americano ao
comércio do Irã, expressa pela recusa da Petrobras em abastecer dois navios
atracados no Porto de Paranaguá, é apenas o primeiro passo para outras medidas
que virão. Num país onde o agronegócio constitue um dos raros setores da
economia que conserva algum dinamismo, o episódio ajuda a compreender a nova
prioridade.
Prefere-se prejudicar interesses do
Brasil e dos brasileiros pelo receio de desagradar Washington. Agora, são
plantadores de milho e outros produtos de exportação os maiores prejudicados.
Não se sabe quem serão os próximos da lista.
É uma postura duas vezes lamentável --
pelo presente e pelo passado.
Há exatamente dez anos, quando estiveram
em Teerã para negociar um acordo sobre tecnologia nuclear com o governo
iraniano, Lula e Celso Amorim provocavam esperança e orgulho em governos
e estudiosos que compreendem a importância de se buscar a paz num mundo plural,
capaz de respeitar necessidades econômicas e diferenças culturais entre
em estágios diversos de desenvolvimento.
Numa iniciativa que teve a concordância,
ponto a ponto, do governo de Barack Obama, o acordo assinado por Brasil,
Irã e Turquia abriu uma perspectiva inédita de paz e convivencia entre velhos
adversários no Oriente Médio -- mais tarde sabotada e inviabilizada pelos
inimigos da paz e senhores da guerra, o governo de Israel, no plano reagional,
o complexo industrial-militar norte-americano, no plano mundial. Não por acaso,
referências fundamentais do Itamaraty sob Bolsonaro.
Ao aderir ao bloqueio contra o Irã, o
país esquece a condição de 8a. economia do planeta e o lugar de nação mais
influente da América do Sul, para praticar uma diplomacia pequena, de um país
que, a seguir este caminho, em breve estará condenado a irrelevância
geo-política.
Alguma dúvida?
(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)
Fonte: Publicado no Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário