Procurador pretendia criar empresa de
palestras para receber altos cachês com eventos, revelam The Intercept e Folha
de S.Paulo
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(FOTO: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL) |
Deltan Dallagnol, procurador da República e
coordenador da Operação Lava Jato, quis aproveitar a fama gerada pela
força-tarefa para lucrar. Segundo mensagens publicadas neste
domingo 14 pelo The Intercept Brasil e
pela Folha de S.Paulo, ele pretendia realizar eventos e palestras com
cachês polpudos na rabeira da exposição das investigações.
E mais: Deltan e o colega procurador da
força-tarefa Roberson Pozzobon pretendiam criar uma empresa na qual não
apareceriam oficialmente como sócios. A justificativa seria “evitar
questionamentos legais e críticas”.
The Intercept e Folha revelam que o procurador discutiu
essa possibilidade com a esposa em dezembro de 2018. “Vamos organizar
congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking
e visibilidade”, escreveu em um chat no Telegram sobre o tema.
“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos
e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas
teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, comentou Deltan em 3
de março no grupo com Pozzobon.
Em conversas em 14 de fevereiro de 2019,
Deltan sugeriu abrir a empresa no nome das esposas dos dois procuradores. “Só
vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que
podem ser minhas e do Robito [Pozzobon] e as tratativas gerenciais que precisam
ser de Vcs duas, por questão legal.”
O coordenador da Lava Jato mencionou que
a estratégia poderia levantar suspeitas. “É bem possível que um dia ela
[Fernanda Cunha, da Star Palestras] seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por
gerenciarmos empresa”, disse.
Pozzobon respondeu: “Se chegarem nesse
grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que
veeeenham”.
De acordo com a Folha e
o Intercept, os procuradores não chegaram a formalizar a empresa. Por lei,
ambos não poderiam gerenciar companhias, mas estariam livres para serem sócios
ou acionistas.
Críticas sobre palestras
As mensagens publicadas mostram que
Deltan não se importava com o incômodo que suas inúmeras palestras e cursos
estravam gerando em colegas de Procuradoria em Curitiba.
“Essas viagens são o que compensa a
perda financeira do caso, pq fora eu fazia itinerancias [trabalho
extraordinário em que, ao assumir tarefas de outro procurador, é possível
engordar o contracheque] e agora faria substituições”, disse em fevereiro de 2015,
pouco antes do primeiro aniversário da operação.
“Enfim, acho bem justo e se reclamar
quero discutir isso porque acho errado reclamar disso. Acho que o crescimento é
via de mão dupla. Não estamos em 100 metros livres. Esse caso já virou
maratona. Devemos ter bom senso e respeitar o bom senso alheio.”
O procurador justifica que as palestras
visavam “promover a cidadania” e que parte dos recursos seria destinada “a
entidades filantrópicas ou de combate à corrupção”.
Por outro lado, as mensagens sugerem que
Deltan pode ter ganhando mais com palestras do que com seu salário em 2018. Até
setembro daquele ano, o procurador afirmou ter recebido 232 mil reais líquidos
com essa atividade.
“Se tudo der certo nas palestras, vai
entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras
e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k
limpo”, disse.
A remuneração líquida do procurador em
2018, de acordo com o Portal da Transparência, é de cerca de 300 mil reais, sem
incluir indenizações.
Em resposta aos questionamentos do
Intercept e da Folha, a assessoria de imprensa da Procuradoria no Paraná disse
que “palestras remuneradas são prática comum no meio jurídico por parte de
autoridades públicas e em outras profissões”. Sobre os eventos de Deltan,
afirmou que a maior parte das palestras “é gratuita e, quando são remuneradas,
são declaradas em imposto de renda e ele doa parte dos valores para fins
beneficentes”.
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