Há pelo menos 2 anos especialistas vem
alertando para o risco de o Brasil voltar ao Mapa da Fome, mas ministro se
escuda em dados de 2014
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Foto: Agência Brasil |
Jornal GGN – O ministro da Cidadania Osmar
Terra mostrou nesta quarta (24) que Jair Bolsonaro não é a única pessoa no
governo ignorando que o atual contexto social e econômico aumenta as chances de
o Brasil retornar ao mapa da fome.
Na semana passada, Bolsonaro disse que é
uma “grande mentira” que há brasileiros passando fome no Brasil.
Agora, Terra afirma à Rádio Gaúcha que a
fome não é mais um “problema de saúde pública” no País e que a obesidade é mais
preocupante – como se uma questão anulasse a outra.
“Não existe fome endêmica. Estamos com
os índices iguais aos países mais avançados do mundo nesta questão da
subnutrição”, comentou, agarrando-se a dados de 2014, quando o País deixou o
mapa da fome.
“Então, não há um motivo para acusar o
governo ou dizer que a fome voltou ou é um grande problema no Brasil. A
obesidade mata mais, inclusive, que os homicídios no Brasil”, acrescentou.
O governo Bolsonaro ignora que, ao menos
desde 2017, pesquisadores vem alertando para pelo menos 3 ingredientes que
podem devolver o País ao mapa da fome em breve: o desemprego alto, o
contingenciamento do orçamento público (e aprovação de projetos como a PEC do
Teto dos Gastos) e o enxugamento de programas sociais, como o Bolsa Família.
Começou com o governo Temer a ideia de
fazer um pente-fino no programa de transferência condicionada de renda criada
por Lula e, desde então, milhares de famílias ficaram desemparadas sob o
pretexto de acabar com “fraudes” e má gestão.
Esse dado que Osmar comemora, de quando
o País deixou o mapa da fome, ficando teoricamente no mesmo patamar de nações
desenvolvidas, pode ser revertido nos próximos anos, se o governo não mudar de
rota.
O mapa da fome, criado pela FAO, recebe
dados de cada País para analisar a situação de pobreza e subalimentação. No
Brasil, é o IBGE que faz o levantamento.
Em 2017, a FAO publicou uma estatística
para a América Latina indicando que, até 2016, não havia sinais de aumento da
fome a despeito dos efeitos da crise de 2015.
Mas é esperada uma alteração nos
resultados dos anos seguintes, pois o IBGE vem detectando aumento na pobreza
extrema – só de 2016 para 2017, essa parcela da população cresceu 11%. Dados
que têm impacto nas análises da FAO.
Segundo artigo do diretor-geral da FAO,
José Graziano da Silva, para impedir a volta do Brasil ao mapa da fome, é
preciso, “além dos gastos públicos com programas sociais, (…) promover um
crescimento inclusivo e substantivo – muito além dos atuais 1% ao ano –, e que
gere empregos de qualidade.”
“O governo brasileiro será sempre o
primeiro a ter conhecimento da situação da pobreza e da segurança alimentar no
país, pois é ele que fornece os dados utilizados pela FAO”, lembrou.
O problema muda de caráter quando um
novo governo se declara inimigo dos dados e nega a realidade à sua volta.
Fonte: Publicado no Jornal GGN
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