Por Fernando Brito
É preciso certa condescendência com
Jair Bolsonaro, embora não a suficiente para absolvê-lo do fato de ser o
executor de uma política de destruição do país, da mesma forma que não se pode
achar que o pistoleiro é o grande culpado pela morte encomendada.
Bolsonaro, a rigor, foi o produto
possível de um processo de destruição política do Brasil que pouco tem a ver
com ele próprio.
Não passaria, em outras
circunstâncias, de um apresentador de tevê ou rádio vespertino, destes de
programas onde se derramam hemorragias do “mundo cão”, ou de um
policial-parlamentar de baixa extração, como tivemos aqui no Rio o “Sivuca”,
o delegado que veio da turma dos formadores do Esquadrão da Morte e
criador, em 1986, do slogan “bandido bom é bandido morto”.
Seria impensável, nos 40 anos que
nos separam de indicação do General João Figueiredo para a Presidência
imaginarmos uma figura tão tosca à frente da Nação. E diga-se, sobre
Figueiredo, que era grotesco e canhestro, mas não um imbecil.
Bolsonaro não chegou à presidência,
portanto, por méritos políticos próprios e nem mesmo por uma conspiração militar.
Os militares, à certa altura, apenas embarcaram na candidatura de um sujeito
que, para eles, era um rastaquera, embora rastaquera seja também quem de
rastaqueras se servem.
Bolsonaro é fruto de outra
gestação, a da violação da democracia política pelas elites
político-judicial-midiática deste país. De sua adesão à mixórdia do baixo-clero
político que se sucedeu às duas derrotas eleitorais de 2006 e 2010 e ao
fracasso de sua última tentativa, já usando um escroque como Aécio Neves,
de alcançar o poder pela via eleitoral.
Compôs-se com um golpe de estado
que não poderia alcançar sua consumação senão pelo aparelhamento completo da
Justiça e da mídia.
De tal forma, porém, exagerou na
dose que despertou um primitivismo que, agora, empalmou o poder e, pior, tomou
conta de parte expressiva da sociedade.
Não é que hoje a conservadorismo
seja maior. Ele anda como sempre foi, ao longo da história , em torno de um
terço dos brasileiros.
A diferença é que se tornou
selvagem, agressivo.
A direita civilizada, parte
legítima e natural do jogo político, tanto quanto a esquerda, está sem
representação. Elevar Rodrigo Maia à condição de seu líder e porta-voz, dada a
sua inexpressão, é a prova do seu aniquilamento.
Perdemos a estima mútua e a autoestima.
O discurso dominante é o de aceitarmos nossa mediocridade, o de ajeitarmo-nos
na pobreza e na exclusão, o de nos desfazermos de tudo o que temos e o de
entregar o país ao “mercado” e aos investidores que vão nos remir, sabe deus
quando, da miséria, embora jamais da pobreza.
Abdicamos de um projeto de
Nação, trocamo-lo por um desejo colonial.
Jair Bolsonaro é só o resultado do
que a gente “de bem” deste país escolheu fazer dele para que continuasse a ser
assim.
É o enterro de qualquer projeto de convivência
harmônica no Brasil, já tão difícil dado o nosso nível de desigualdade.
A elite brasileira escolheu ter a
cara de um monstro, e só esta.
Terá dificuldade de ser vista com
outra aparência.
Fonte: Publicado no Tijolaço
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