"Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados." ― Vladimir Herzog

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Painel Paulo Freire, obra de Luiz Carlos Cappellano.

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segunda-feira, 29 de abril de 2019

Importância da sociologia e filosofia para a sociedade, por Válber Almeida


'O que leva Bolsonaro e seu ministro da educação a cometer este crime contra a sociedade e a economia? Desconhecimento e despreparo'
Sociologia e Filosofia não dão retorno social e econômico para a sociedade?



Precisamos esclarecer que é exatamente o inverso. Sociologia e Filosofia foram as áreas que mais deram e dão retorno social para as sociedades.

Começa pelo fato de que os estudos sociológicos e filosóficos foram centrais na montagem dos arranjos institucionais jurídicos e políticos que garantiram a integração e a coesão social das sociedades modernas.

Tais arranjos deram uma face mais humana ao capitalismo, sem a qual tais sociedades teriam se desintegrado em lutas de classe.

Os estudos sociológicos e filosóficos estão na base do desenvolvimento dos direitos políticos, sociais e trabalhistas; nas políticas de redução das desigualdades sociais e educacionais, de distribuição de riqueza, bem-estar social, ampliação das oportunidades sociais e qualidade de vida nas sociedades capitalistas centrais.

Também embasaram tanto as lutas por direitos, cidadania, bem-estar e dignidade quanto os arranjos político-institucionais que daí resultaram, os quais constituíram fantásticas tecnologias de promoção civilizatória, de transformação do capitalismo numa força histórica civilizadora.

Sem a fundamentação científica e a crítica emancipatória do conhecimento filosófico e sociológico, o conhecimento e as tecnologias desenvolvidos em outras áreas continuariam como meras mercadorias raras, caras e seriam ainda mais inacessíveis às amplas parcelas precarizadas da sociedade.

O retorno social destas duas áreas de conhecimento, portanto, é fantástico. Mas o retorno econômico também.

Especificamente no caso da Sociologia, minha área, vou dar dois exemplos práticos… Na área da saúde, a Sociologia está presente numa disciplina que em algumas universidades é chamada Abordagem Socioantropológica da Saúde.

Este ramo especializado das Ciências Sociais é responsável pelos avanços mais importantes na área da higienização e epidemiologia, assim como pelos programas de saúde preventiva, formação de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, e, ainda, pelo desenvolvimento dos sistemas públicos de saúde.

Parte do princípio de que a saúde e a doença se explicam não somente por fatores naturais, biológicos e físicos, mas por um arranjo sistemático de variáveis ambientais naturais, sociais, políticas, culturais e econômicas. No Brasil, consolidou-se na abordagem da Saúde Coletiva e resultou no SUS.

São bilhões que os governos e as sociedades economizam com estes programas e estes trabalhos em equipe. Além disso, eleva a eficiência da prevenção, do diagnóstico e do tratamento, o que também significa economia de tempo e recursos.

Outra, nas grandes empresas é cada vez mais requisitada a presença de Sociólogos, na medida em que os Investimentos Sociais Privados (ISPs) voltados para alcançar a Licença Social para Operar (LSO) são entendidos como uma ação preventiva, a qual antecipa e reduz perdas decorrentes de conflitos sociais.

Os casos de Brumadinho e Mariana são exemplares. A Vale S.A. está aprendendo a duras penas o custo econômico da negligência socioambiental e a importância de tratar estas áreas como fator de eficiência também econômica para a empresa.

Nos trens da empresa, cada paralisação decorrente de intervenções comunitárias em suas ferrovias pode gerar milhões de prejuízos por hora.

Portanto, tanto na esfera pública quanto empresarial, é imenso o retorno econômico da aplicação da Sociologia.

Então, o que leva Bolsonaro e seu ministro da educação a cometer este crime contra a sociedade e a economia? Desconhecimento? Sim! Despreparo? Sim!

Mas, é preciso entender também a tentativa de invisibilizar a concentração ainda maior da riqueza da nação na parte minoritária dos super ricos que suas medidas econômicas deverão produzir.

É, também, um passo a mais rumo a um governo de terror, o qual tem entre suas marcas históricas a perseguição ao pensamento social científico e emancipatório, que tem na Sociologia e na Filosofia seus quartéis generais.

Por fim, a busca de consolidar um governo que só se sustenta sobre a disseminação de mentiras e fantasias: proíbe-se a divulgação de dados sobre suas reformas, ao mesmo tempo em que proíbe o conhecimento crítico…

É a barbárie abrindo caminho, pedindo passagem, à galope!

*Válber Almeida – Sociólogo; Doutor em Sociologia; Pós-Doutor em Socioeconomia e Sustentabilidade.




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