'O que leva
Bolsonaro e seu ministro da educação a cometer este crime contra a sociedade e
a economia? Desconhecimento e despreparo'
Sociologia e
Filosofia não dão retorno social e econômico para a sociedade?
*Por VálberAlmeida
Comentário à
publicação “Bolsonaro
alfineta cursos de humanas por falta de conhecimento, por Renato Janine Ribeiro“
Precisamos
esclarecer que é exatamente o inverso. Sociologia e Filosofia foram as áreas
que mais deram e dão retorno social para as sociedades.
Começa pelo fato
de que os estudos sociológicos e filosóficos foram centrais na montagem dos
arranjos institucionais jurídicos e políticos que garantiram a integração e a
coesão social das sociedades modernas.
Tais arranjos
deram uma face mais humana ao capitalismo, sem a qual tais sociedades teriam se
desintegrado em lutas de classe.
Os estudos
sociológicos e filosóficos estão na base do desenvolvimento dos direitos
políticos, sociais e trabalhistas; nas políticas de redução das desigualdades
sociais e educacionais, de distribuição de riqueza, bem-estar social, ampliação
das oportunidades sociais e qualidade de vida nas sociedades capitalistas
centrais.
Também embasaram
tanto as lutas por direitos, cidadania, bem-estar e dignidade quanto os
arranjos político-institucionais que daí resultaram, os quais constituíram
fantásticas tecnologias de promoção civilizatória, de transformação do
capitalismo numa força histórica civilizadora.
Sem a
fundamentação científica e a crítica emancipatória do conhecimento filosófico e
sociológico, o conhecimento e as tecnologias desenvolvidos em outras áreas
continuariam como meras mercadorias raras, caras e seriam ainda mais
inacessíveis às amplas parcelas precarizadas da sociedade.
O retorno social
destas duas áreas de conhecimento, portanto, é fantástico. Mas o retorno
econômico também.
Especificamente
no caso da Sociologia, minha área, vou dar dois exemplos práticos… Na área da
saúde, a Sociologia está presente numa disciplina que em algumas universidades
é chamada Abordagem Socioantropológica da Saúde.
Este ramo
especializado das Ciências Sociais é responsável pelos avanços mais importantes
na área da higienização e epidemiologia, assim como pelos programas de saúde
preventiva, formação de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, e,
ainda, pelo desenvolvimento dos sistemas públicos de saúde.
Parte do
princípio de que a saúde e a doença se explicam não somente por fatores
naturais, biológicos e físicos, mas por um arranjo sistemático de variáveis
ambientais naturais, sociais, políticas, culturais e econômicas. No Brasil,
consolidou-se na abordagem da Saúde Coletiva e resultou no SUS.
São bilhões que
os governos e as sociedades economizam com estes programas e estes trabalhos em
equipe. Além disso, eleva a eficiência da prevenção, do diagnóstico e do
tratamento, o que também significa economia de tempo e recursos.
Outra, nas
grandes empresas é cada vez mais requisitada a presença de Sociólogos, na
medida em que os Investimentos Sociais Privados (ISPs) voltados para alcançar a
Licença Social para Operar (LSO) são entendidos como uma ação preventiva, a
qual antecipa e reduz perdas decorrentes de conflitos sociais.
Os casos de
Brumadinho e Mariana são exemplares. A Vale S.A. está aprendendo a duras penas
o custo econômico da negligência socioambiental e a importância de tratar estas
áreas como fator de eficiência também econômica para a empresa.
Nos trens da
empresa, cada paralisação decorrente de intervenções comunitárias em suas
ferrovias pode gerar milhões de prejuízos por hora.
Portanto, tanto
na esfera pública quanto empresarial, é imenso o retorno econômico da aplicação
da Sociologia.
Então, o que
leva Bolsonaro e seu ministro da educação a cometer este crime contra a
sociedade e a economia? Desconhecimento? Sim! Despreparo? Sim!
Mas, é preciso
entender também a tentativa de invisibilizar a concentração ainda maior da
riqueza da nação na parte minoritária dos super ricos que suas medidas
econômicas deverão produzir.
É, também, um
passo a mais rumo a um governo de terror, o qual tem entre suas marcas
históricas a perseguição ao pensamento social científico e emancipatório, que
tem na Sociologia e na Filosofia seus quartéis generais.
Por fim, a busca
de consolidar um governo que só se sustenta sobre a disseminação de mentiras e
fantasias: proíbe-se a divulgação de dados sobre suas reformas, ao mesmo tempo
em que proíbe o conhecimento crítico…
É a barbárie
abrindo caminho, pedindo passagem, à galope!
*Válber Almeida –
Sociólogo; Doutor em Sociologia; Pós-Doutor em Socioeconomia e
Sustentabilidade.
Fonte: Publicado no Jornal GGN
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