Ricardo Kotscho, jornalista |
Bolsonaro deve achar que todo mundo é
idiota, não só os que votaram nele.
Quando ignorância, cinismo e má-fé se
juntam, é um perigo.
Dá nisso que estamos vendo.
Em Israel, perguntado sobre a nova
teoria de Ernesto Araújo, o chanceler aloprado, para quem o nazismo foi um
movimento de esquerda, o capitão respondeu de bate pronto:
“Não há dúvida. Partido Socialista… Como
é que é? Da Alemanha (alguém lhe assoprou no ouvido). Isso: Partido Nacional
Socialista (com ênfase no socialista)”.
Pronto. Está respondido. Os napoleões
não costumam ter dúvidas, só certezas.
Pela cara de assustado que fez, antes de
encerrar a entrevista, Bolsonaro não deve saber o que é Alemanha, Partido
Nacional Socialista, nazismo nem socialismo, e certamente deve estar confundido
Hitler com Stalin.
O mais assustador nesta história é que
Bolsonaro estudou em escolas militares e Araújo cursou o Instituto Rio Branco
para entrar no Itamaraty.
Será que foi lá que lhes ensinaram essas
coisas ou eles estão inventando moda só para chamar a atenção das visitas e dos
médicos?
Fico imaginando quais serão as próximas
descobertas históricas da delirante dupla responsável pela nossa política
externa.
Atenção para a legenda: o que vou
escrever abaixo é uma especulação irônica, não estou dando ideias para ninguém.
- A ditadura militar brasileira foi uma estratégia maquiavélica da esquerda para desmoralizar as Forças Armadas.
- O Brasil não foi descoberto por Cabral, mas por comunistas venezuelanos, comandados pelos antepassados de Maduro.
- Coronel Brilhante Ustra foi um defensor dos direitos humanos dos humanos direitos ao introduzir modernos métodos nos interrogatórios.
- Dom Paulo e Dom Hélder foram torturadores contumazes para jogar os pobres contra os ricos e instalar aqui uma ditadura clerical comunista.
- Lula foi criado pela CIA para escravizar os trabalhadores brasileiros e entregar o ouro do Brasil para o bem dos Estados Unidos.
Determinado a reinventar o Brasil e a
nossa História, cumprindo uma missão divina, como disse na Globo News, o
capitão, seus filhos e seus generais vão ter que primeiro destruir o que foi
feito em 519 anos de comunismo para depois construir uma nova nação, próspera e
feliz, uma olavolândia tropical.
Foi o que ele anunciou naquele jantar em
Washington oferecido por líderes de extrema-direita que chamam Hitler de
Adolfinho e acham que ele perdeu a guerra porque ficou doente, coitado.
Enquanto não chegamos ao paraíso
prometido, Damares vai distraindo a platéia com suas danças das goiabeiras e o
chanceler cuida da construção do escritório comercial do Brasil em Jerusalém
para desafiar o Hamas, com a ajuda do laranjal do filho Eduardo, o 01, para
melhorar nossas relações com os países árabes.
“Chega! Chegamos ao limite! Não dá mais!
Acabou a paciência!”, reagiu o presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária, Alceu Moreira (MDB-RS), ao cruzar com os líderes do governo nos
corredores da Câmara.
Devem achar que ele ficou maluco.
Afinal, esta frente agropastoril da
bancada ruralista foi decisiva na eleição do capitão reformado para evitar que
os comunistas voltassem ao poder.
Empresários reunidos num jantar, esta
semana em São Paulo, segundo a Coluna do Estadão, revelaram desânimo com o
governo.
Estão descobrindo só agora que Bolsonaro
não é exatamente o estadista liberal vendido a eles por Paulo Guedes.
Na guerra permanente contra seus
inimigos imaginários deflagrada pelo presidente no dia da posse, já foram
detonados o Ministério da Educação e o Itamaraty, e o próximo alvo é o IBGE,
que insiste em mostrar com números o desemprego aumentando no país.
Quais serão os próximos alvos?
Números e fatos são muito relativos para
esses mandatários da nova ordem, que criam suas próprias leis, teorias e
estatísticas, numa realidade virtual alucinante movida nas redes sociais da
família que ninguém mais sabe quem controla.
O responsável pela divulgação no
domingo, no canal oficial do Planalto, daquele vídeo em defesa da ditadura
militar, que não houve, ainda é um mistério, entre tantos outros que se
acumulam, como o destino do motorista Queiroz e dos laranjas das “rachadinhas”
dos gabinetes.
Para onde será a próxima viagem do
capitão?
Só espero que não seja para fazer
parcerias com a Coréia do Norte. Lá é meio perigoso, como bem sabe o amigo e
irmão Donald Trump.
Às vésperas do governo completar 100
dias, seguimos caminhando no escuro para o desconhecido.
Nunca sabemos como será o dia de amanhã.
Só desconfio que isso não vai acabar
bem.
Vida que segue.
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