Luiz Carlos Freitas, professor |
Que Velez estava “fazendo hora extra” no
MEC, já se sabia. A demora em demiti-lo se deu em função da busca de um novo
nome para o Ministério da Educação. Não era uma tarefa fácil dada a existência
de uma coalizão conservadora/neoliberal que perpassa todo o governo. Vários
nomes foram indicados e até mesmo o nome de Mozart voltou a ser sugerido nos
bastidores, o que confere com a intensa agenda que este teve nos últimos dias
com participação no programa Roda Viva e entrevistas, em uma das quais disse
ser um “soldado da educação brasileira”, quando indagaram se aceitaria ir para
o MEC no governo Bolsonaro.
Novamente o governo desperdiçou a
possibilidade de pacificar o MEC pelo menos com a área liberal da educação. Mas
Bolsonaro não quer mesmo isso, pois considera, como já disse anteriormente, que
esta é uma área contaminada pelo marxismo cultural.
O novo ministro é, e não é, mais do
mesmo. Por um lado, é seguidor
de Olavo de Carvalhocomo o anterior. Diz o novo ministro que para
se combater o marxismo cultural é preciso “humor e inteligência”.
Ou seja, a hipocrisia e a ironia vão aumentar.
Por outro lado, o novo ministro é mais
do que conservador. Ele vem da área econômica e tem experiência na lógica
operativa do neoliberalismo. Foi diretor estatutário do Banco Votorantim, CEO
da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities nos Estados Unidos
e na Inglaterra. Dessa forma, é um nome que reúne as teses conservadoras e a
lógica da privatização e da concorrência.
Com Velez argumentávamos que deveriam
existir duas etapas no MEC: uma conservadora e outra neoliberal, pois ele só
teria condição de conduzir a agenda conservadora. Com o novo ministro ganha-se
a possibilidade de fazer as duas agendas seja de forma simultânea, seja em
série – na dependência das prioridades do plano geral de privatização do
governo, com sede na área do Ministério da Economia.
No momento, a prioridade é com a agenda
conservadora e a recuperação da capacidade de gestão do MEC. Os
ex-alunos e olavetes que foram retirados do MEC na gestão Velez, tendem a ser
recolocados no órgão. Há
quem diga que isso fez parte do acordo. O diferencial nesta fase, em
relação a Velez, é que ela será feita com mais gestão – eliminando os problemas
recorrentes que criaram situações embaraçosas para o governo até agora.
O número dois do MEC, seu secretário
executivo, já está definido no próprio acordo: será Eduardo de Melo e ele tem
trânsito com os evangélicos, tem formação na área militar e tem o apoio
de Olavo de Carvalho. Com isso, tenta-se apaziguar as outras correntes
do MEC: evangélicos e militares e criar algum tipo de armistício entre estas
forças. Mas, detalhe, Eduardo também tem interface com a iniciativa privada.
O conjunto de forças que emerge desta
alteração, reforça a ideia de que se mantém a agenda conservadora e desloca-se
para o órgão um pessoal que tem condições também para a fase neoliberal de
privatização, sob a batuta de Paulo Guedes do Ministério da Economia.
Mas, mais importante ainda, é que a
vivência dos novos ocupantes na iniciativa privada permitiu a eles desenvolver
uma compreensão da lógica
de funcionamento neoliberal. Como diz Marilena Chauí, o
neoliberalismo não é só uma questão que se explica pelo regime acelerado de
financeirização, mas ele é, em si, um padrão sócio-político.
Neste sentido, o alto comando do MEC tem
agora pessoas que podem orientar o órgão, por um lado, pelas teses
conservadoras e, por outra, na lógica operativa do padrão sócio-político do
neoliberalismo. Pode, portanto, destruir o MEC como instituição social que é, e
transformá-lo em uma “organização empresarial”. Por tanto, não é apenas mais do
mesmo, mas é mais do mesmo ampliado no contexto de uma coalizão
conservadora-neoliberal.
Resta saber como vão se comportar os
liberais de raiz. Estes, embora concordem com a agenda econômica neoliberal,
têm divergências com os conservadores e neoliberais ligadas à preservação da
democracia liberal representativa. Tudo vai depender de como o novo ministro
caminhe no combate ao marxismo cultural e na intensidade da privatização.
Se tal combate for tolerável, os
liberais de raiz apoiarão o novo ministro “em nome do Brasil”, “em nome da
educação brasileira”, em nome de que “não podemos torcer para dar errado”.
Principalmente se as propostas que vinham sendo executadas no governo Temer
forem mantidas e desenvolvidas.
Devemos agora aguardar pelas mudanças
nos postos do MEC que poderão ocorrer nos próximos dias e as primeiras ações do
novo ministro.
*Professor aposentado da Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Fonte: Publicado no Blog do Freitas
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