A publicação de diálogos de autoridades
relacionadas à operação Lava Jato, feita pelo site The Intercept, gerou ataques
descabidos aos jornalistas responsáveis pela série de reportagens.
O ministro da Justiça, Sergio Moro,
chamou o Intercept, no Twitter, de “site aliado a hackers criminosos” (14.jun.2019). Trata-se de uma manifestação preocupante de
um ministro que já deu diversas declarações públicas de respeito ao papel da
imprensa e à liberdade de expressão. Moro, que é um dos convidados do
14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que a Abraji
realizará de 27 a 29 de junho, erra ao insinuar que um veículo é cúmplice de
crime ao divulgar informações de interesse público. O Intercept alega que
recebeu de uma fonte anônima mensagens privadas de Moro e de procuradores da
Lava Jato. Jornalistas e veículos não são responsáveis pela forma como a fonte
obtém as informações.
Na tarde da última quinta-feira
(13.jun.2019), o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) ameaçou de “deportação” o jornalista Glenn Greenwald,
do Intercept, acusando-o de cometer “crimes contra a segurança nacional”. No
dia anterior, Jordy apresentou uma proposta para convidar Greenwald a prestar
esclarecimentos sobre a divulgação de conversas entre Sergio Moro e o
procurador federal Deltan Dallagnol. Junto com Filipe Barros (PSL-PR), Jordy
tenta ainda instaurar uma CPI para “investigar as atividades dos responsáveis
pela criminosa interceptação e divulgação de conversas”.
A onda de ataques a Greenwald começou
logo após a publicação das primeiras partes da série “As mensagens secretas da
Lava Jato”.
Na segunda-feira (10.jun.2019), uma ação
coordenada no Twitter colocou #DeportaGlennGreenwald como um dos assuntos mais
comentados na plataforma. Os ataques e peças de desinformação também tiveram como
alvo o deputado David Miranda (PSOL-RJ), casado com Greenwald.
Heitor Freire (CE) e Charlles
Evangelista (MG), deputados federais do PSL, distribuíram em suas redes sociais
montagens com fotos de Greenwald e afirmações falsas de que David Miranda é acusado
de terrorismo e condenado por crime contra a segurança do Reino Unido. Paulo
Eduardo Martins (PSC-PR) também publicou conteúdo semelhante.
A Abraji manifesta solidariedade a Glenn
Greenwald e repudia os ataques direcionados a ele, à sua família e a seus
colegas do Intercept, especialmente os que partem de agentes públicos.
Tentativas de intimidar e silenciar um veículo são ações típicas de contextos
autoritários e não podem ser tolerados na democracia que rege o país.
Diretoria da Abraji, 19 de junho de
2019.
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