"Antes todo mundo queria aparecer
do lado do Lula. Agora é o contrário", diz ex-chanceler. Vergonha
internacional só é comparável aos tempos da ditadura
Por Redação RBA
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Enfraquecimento do Brasil pode acarretar em concessões excessivas durante negociações internacionais. (Foto: CLAUBER CLEBER CAETANO/PR) |
São Paulo – A soberania do Brasil não
está posta em questão pelos críticos de Bolsonaro no G20. O que houve, ainda
antes do início da reunião, foi uma manifestação de preocupação da chanceler alemã, Angela Merkel,
por conta da guinada na política ambiental brasileira. Mesma apreensão exposta
pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que fala em bloquear acordo comercial
entre União Europeia e Mercosul, caso o presidente Jair Bolsonaro se retire do
Acordo de Paris, como anunciou em campanha. O Acordo de Paris trata de compromissos para redução de emissões de gases de
efeito estufa no esforço contra o aquecimento global.
Mas o governo Bolsonaro, pela boca do
presidente e de seu ministro do Gabinete de Segurança Institucional,
responderam como se grosseria diplomática fosse sinal de altivez ou respeito à
soberania. Para o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, o
desastre marca o contraste entre a atual imagem do Brasil no cenário
internacional e o papel de destaque alcançado em período recente.
“Antes todo mundo queria aparecer do
lado do Lula. Agora é o contrário. Parece haver um esforço de líderes
mundiais para não aparecerem ao lado do presidente do Brasil nessas reuniões”,
disse o diplomata em entrevista à jornalista Marilu Cabañas para o Jornal Brasil Atual nesta sexta-feira
(28), lembrando que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva foi um dos
principais articuladores do G-20, que viria a substituir o antigo G-7 como
principal foro de decisões internacionais entre os grandes países.
Ele diz que o respeito do Brasil às
normas internacionais, posto em xeque com Bolsonaro, começaram muito antes do
governo do PT, do qual participou. “Começou com Collor, continuou no governo
Itamar, e até no governo Fernando Henrique Cardoso.” A contradição, segundo
Amorim, é que o atual governo finge utilizar conceito de soberania para violar
normas internacionais, e ao mesmo tempo viola a nossa soberania, ao entregar o
patrimônio brasileiro a estrangeiros, como no caso da venda da Embraer para os norte-americanos da Boeing,
ou ainda a entrega do pré-sal às petrolíferas estrangeiras.
Segundo ele, em nenhuma outra época o
Brasil teve uma imagem internacional tão ruim como agora, talvez comparável
apenas ao período da ditadura, quando as denúncias de tortura, morte e
desaparecimento de opositores manchavam a imagem do país. O ex-chanceler afirma
que o governo brasileiro só não é excluído dos encontros internacionais,
tornando-se um “pária”, devido às suas dimensões territoriais, populacionais e
econômicas.
Amorim diz que essa percepção negativa traz prejuízos para as empresas brasileiras com negócios no exterior. Ele teme também que o enfraquecimento do Brasil no cenário internacional leve a fazer concessões excessivas em negociações comerciais e diplomáticas com outros países. No caso do Mercosul, soma-se ainda a fraqueza econômica da Argentina, que voltou a recorrer ao FMI, o que fragiliza ainda mais o poder de negociação do bloco.
Avião de “carreira”
Sobre o escândalo do militar brasileiro
preso na Espanha com 39 quilos de cocaína, Amorim diz que “nunca viu nada
parecido”. Além de ampliar o desgaste da imagem do Brasil no exterior, já que o
caso recebeu ampla cobertura da imprensa europeia, o ex-chanceler classifica
também como uma “falha gravíssima” de segurança da comitiva do presidente. “E
se em vez de cocaína, fosse uma bomba?”, questiona o ex-ministro.
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