Cleber Lourenço
alerta: “O que mais me preocupa é que, além de reitores investigados pela Abin,
ainda há um ministro ávido por ter acesso aos dados sigilosos de estudantes de
todo país”
Por Cleber
Lourenço
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(Foto: Fabio
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
|
Enquanto já se
fala, inclusive, no impeachment de Bolsonaro, ainda há muita confusão e tumulto
em um dos ministérios mais importantes. Isso mesmo, o MEC.
Em minha primeira coluna por aqui,
afirmei que a nomeação de malucos para a gestão da pasta tinha como principal
objetivo desviar a atenção da população para o fato de que não só o ministro
Paulo Guedes, como pessoas no seu entorno, iriam lucrar com os desmandos e
cortes na educação.
O fato é que há
muito além do que encher os bolsos de dinheiro. Seria simplista da minha parte
afirmar, também, que Abraham Weintraub é um mero inimigo da educação. O que
está em curso é o maior aparelhamento ideológico já visto neste país.
O nefasto
projeto “Escola sem Partido” é um verdadeiro passeio no parque perto do que
está por vir, caso esse governo não seja afastado.
Se por um lado
há o interesse econômico, por outro o governo agora busca impregnar a educação
com a ideologia de extrema direita. Como?
Em decreto
publicado nesta terça-feira (4), no DOU, Bolsonaro retirou dos reitores a
delegação para constituir equipes. Nomeações virão de Casa Civil e MEC.
Exatamente como Orbán na Hungria, futuros dirigentes de IFES deverão se alinhar
ao governo vigente. Ou então, não serão.
O decreto,
resumidamente, retirou completamente a autonomia das universidades para montar
seus quadros e dinamitou as eleições para direção de campus.
A coisa fica
ainda pior! Um dos parágrafos diz:
“A imprensa
nacional não publicará atos de nomeação e designação que dependam de
autorização prévia da casa civil da presidência”.
Achou
assustador? Saiba que nem em 1964 foi seguido este curso. O que falta? Torturas
e “desaparecimentos”.
E se o STF não
declarar inconstitucional, vamos ver ao vivo, em pleno século XXI, a maior
máquina de perseguição aos docentes. A queima de livros em praça pública e a
noite dos cristais serão, certamente, no dia seguinte. É muito grave!
A manobra viola
o artigo 207 da Constituição. Infelizmente, vivemos em um tempo onde sequer
temos a certeza se o STF respeitará a Constituição.
O decreto também
cria o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc), um sistema eletrônico
que vai centralizar e armazenar todas as indicações de nomeações por parte dos
ministérios.
E, agora,
chegamos ao fato mais perturbador: a Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
e a Controladoria-Geral da União (CGU) farão uma análise da “vida pregressa” da
pessoa em questão.
Ou seja, a vida
de qualquer um que deseja ser reitor será revirada.
Mas as coisas
não param por aí. Se de um lado as instituições são atacadas, por outro os
estudantes também ficam em risco.
A demissão do
delegado da PF e presidente do Inep, Elmer Vicenzi, tem uma trama ainda mais
perturbadora como pano de fundo.
O estopim da
saída de Vicenzi foi quando Abraham Weintraub pediu acesso a dados sigilosos de
estudantes, solicitação que foi negada pelo procurador-chefe do órgão.
Além disso, uma
matéria da Revista Veja, da jornalista Maria Clara Vieira, revelou que a ânsia
pelos dados de estudantes é muito mais antiga.
A matéria afirma
que, segundo um ex-funcionário da pasta, Vicenzi insistiu com o vice, que
também negou o pedido e acabou sendo demitido. O episódio terminou com uma
greve dos procuradores do Inep, que estavam incomodados com a insistência do
delegado da PF.
O que mais me
preocupa é que, além de reitores investigados pela Abin, ainda há um ministro
ávido por ter acesso aos dados sigilosos de estudantes de todo país. Por qual
motivo?
Quais são as
intenções de Weintraub em querer acessar essas informações?
Só a extrema
direita poderá fazer o Enem? Garantir que o viés ideológico de extrema direita seja
predominante na educação brasileira?
Questões que não
possuem resposta, mas que, certamente, despertam medo.
Em tempo: o Enem ainda
segue com seu desafio logístico de arrumar uma nova gráfica para imprimir o
exame para cerca de 5 milhões de estudante. Até agora o Inep sequer possui uma
gestão sólida. Além disso, o diretor de área responsável pelo Enem foi
exonerado.
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mais também no meu site: www.ocolunista.com.br
Fonte: Publicado
na Revista Fórum
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