'Reforma da
Previdência traz ideia "do máximo egoísmo, em que cada qual orienta o seu
destino a partir de si", incompatível princípio solidário do sistema'
Por Redação RBA
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(Foto: LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS) |
São Paulo – A
Proposta de Emenda à Constituição que trata da “reforma” da
Previdência, a PEC 6, “fere de morte valores fundantes da
Constituição de 1988, tal como o de explicitar, em nível constitucional, os
principais fundamentos das políticas públicas voltadas à construção
da sociedade nacional”, diz a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
(PFDC), vinculada ao Ministério Público Federal (MPF), em nota técnica
encaminhada ao Congresso Nacional.
Para a
Procuradoria, a PEC 6 contém “vícios de inconstitucionalidade”. E a criação do sistema de capitalização, como quer o governo Bolsonaro,
mexe com o princípio da solidariedade, “núcleo central” da Carta aprovada há
quase 31 anos.
“A ideia força
aqui é a do máximo egoísmo, em que cada qual orienta o seu destino a partir de
si, exclusivamente. Nada mais incompatível, portanto, com o princípio
regulativo da sociedade brasileira”, afirmam os procuradores. Eles lembram que
a proposta inclui um artigo à Constituição criando um novo sistema,
obrigatório, substituindo o regime de repartição. “E isso sem que se saiba
ao certo a disciplina da lei complementar.”
Confira aqui a
íntegra da nota técnica, elaborada para subsidiar o debate no
parlamento.
A PFDC sustenta
ainda que a PEC 6 retira do âmbito constitucional várias questões relacionadas
ao sistema, já que muitos itens – benefícios, idade mínima, tempo de
contribuição, regras de cálculo e outros – passariam a ser disciplinados por
lei complementar, “cujo conteúdo é ainda desconhecido”. E afirma que a
Constituição contém “normas que traduzem políticas públicas tendentes a
superar” a histórica desigualdade social brasileira.
“E não há
como negar que os temas atinentes à capitalização e à
desconstitucionalização dos principais vetores da Previdência alteram o núcleo
essencial da Constituição de 1988”, acrescenta a Procuradoria. O órgão do MPF
inclui ainda dados de um estudo comparativo da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) mostrando que a privatização do sistema previdenciário em
países do Leste Europeu e da América Latina resultou em fracasso, “em razão do
acúmulo de evidências sobre os impactos sociais e econômicos”.
Os procuradores
também observam que a proposta governista também atinge benefícios
assistenciais e acrescentam que “os mais desvalidos não são poupados pela PEC”,
citando o Benefício de Prestação Continuada (BPC). “O paulatino enfraquecimento
dos direitos dos trabalhadores, a revolução tecnológica e a própria redução das
perspectivas de aposentadoria tendem a aumentar a demanda pelo BPC. O Estado
deveria, portanto, estar preocupado em fortalecer esse sistema, para cumprir
com seu dever de garantia do mínimo existencial e da dignidade humana.”
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