O governo Temer e o atual enxovalham a
direita, a centro-direita e a extrema-direita. Fizeram muito para derrubar
Dilma e para barrar a candidatura de Lula. Quais foram os benefícios para o
Brasil?
*Por Róber Iturriet Avila
Passados seis meses de governo Bolsonaro
e três anos de uma aliança liberal-conservadora na gestão do país, já estão
autorizadas as cobranças pelos resultados.
O governo Temer prometia que a redução
de gastos públicos geraria crescimento econômico e a reforma trabalhista
ampliaria o número de empregos. Os resultados concretos foram: estagnação,
desemprego e ampliação do endividamento público. O lado positivo foi a redução
da inflação e do nível de taxa de juros. Houve um entusiasmado apoio de
inúmeros setores para a queda de Dilma Rousseff. Seriam eles responsáveis pelo
desastre que tivemos desde então?
Se o governo anterior é passado, o atual
completa seis meses. Vejamos o que ocorreu nesse período.
Muitas decisões políticas são
fundamentadas em informações falsas, são exemplos a fala do presidente de que
as universidades públicas não fazem pesquisa e a crítica à metodologia do IBGE
no cálculo da taxa de desemprego.
Nossa inserção internacional promete
aumentar a produtividade e a competitividade da economia brasileira. Nas
negociações, abriríamos mão de facilidades e flexibilidades na Organização
Mundial do Comércio (OMC) para, em troca, abrir mão de efetuar políticas de
desenvolvimento industrial ao ingressar na Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), ainda que o Brasil não esteja no mesmo
patamar desses países. Na prática, o Brasil abriria mão de qualquer sombra de
soberania para efetuar políticas industriais.
Nossas relações exteriores nos trouxeram
embaraços com países árabes e desavenças com nosso principal parceiro
comercial, a China. Não é impossível que o Brasil sofra embargos do mundo
civilizado para que reduzamos o nível de agrotóxicos, do desmatamento e
acabemos com a perseguição aos índios.
Muitos governos tinham um alinhamento
aos Estados Unidos, mas não vem à mente registros de uma subserviência
humilhante como a atual. A comunidade internacional está horrorizada ao ponto
de um prefeito humilhar o presidente da República sem nenhuma voz de defesa de
Trump. Bolsonaro é visto e tratado como uma aberração.
Quem conhece a história brasileira, sabe
que nunca houve um governo tão esquisito quanto este. Jânio Quadros era
desajeitado, queria governar acima do Congresso e se preocupava com questões
menores, mas ao menos era culto e tinha experiência executiva. O governo atual
é formado por um grupo de pessoas com pouca estatura intelectual, baixa
experiência, e, salvo exceções, que não possui conhecimento na área em que
atuam.
Um dos grupos que está no governo é
formado por conservadores pré-iluministas. Questionam o conhecimento, a
ciência, a cultura, perseguem explicitamente professores, jornalistas e
artistas. Querem calar opositores pensantes.
A destruição da educação, da saúde e da
previdência são intenções óbvias. Além da perseguição aos sindicatos. Os
resultados de tais políticas podem ser observados em registros históricos:
redução de salários, aumento de pobreza e da desigualdade.
Felizmente, o Congresso e o Supremo emperram a insanidade de armar uma população em um país desigual, violento e que espuma ódio.
Felizmente, o Congresso e o Supremo emperram a insanidade de armar uma população em um país desigual, violento e que espuma ódio.
Do ponto de vista da gestão política,
farpas para todos os lados: vice, ministros, imprensa, Congresso, STF,
militares, estudantes, professores, gays, mulheres, índios, negros.
Nem é preciso apelar ao moralismo e
falar das milícias, do ministro da Justiça criminoso, das laranjas, do golden
shower, do turismo sexual, da ideia fixa em órgãos sexuais e nem da escatologia
do “guru”.
O presidente rebaixa o seu cargo ao
decidir sobre lombada eletrônica, cadeirinha, horário de verão, dessanilização
da água, nióbio, grafeno e todas essas platitudes minúsculas para o seu cargo.
Sejamos claros: Bolsonaro tem limitações
intelectuais elevadas, é grosseiro, desconhece todos os temas de governo, não
sabe o que é o Brasil, não sabe como resolver os problemas da nação, tem
intenções autoritárias e há claros sinais de que seja paranoico. Estamos diante
de um governante patético, amador, medíocre, ignorante, despreparado, bizarro e
louco. Um vexame planetário.
Nada disso é novidade a quem tem
sensatez. Até mesmo o ex-secretário geral do Governo enxerga o que é evidente.
Contudo, depois de três anos de desastres econômicos, políticos e de vergonha
internacional, cabe a questão: cadê a autocrítica da direita brasileira? Tanto
o governo Temer, quanto o atual enxovalham a direita, a centro-direita e a
extrema-direita. Fizeram muito para derrubar Dilma e para barrar a candidatura
de Lula. Quais foram os benefícios para o Brasil?
Há vozes na imprensa liberal e na
conservadora de crítica pesada ao atual governo. Há líderes empresariais que
olham para Mourão. Mas cadê a autocrítica? Diversos grupos contribuíram para
que chegássemos neste fundo do poço em que estamos. A narrativa simplória
“contra a corrupção” destruiu muitas das principais empresas brasileiras,
desestruturou o sistema político, trouxe desemprego e estagnação, fragilizou a
democracia.
Passados três anos, quais foram os resultados concretos até aqui? Onde está a autocrítica da direita brasileira?
(Crédito da foto da página inicial: José
Cruz/Agência Brasil)
*Doutor em economia e professor adjunto
do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. É colunista do Brasil Debate
Fonte: Publicado no Brasil Debate
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