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Diante da angústia e desolação, o que
fazer? Diante de um dos cenários mais arrasadores desde os anos de chumbo
da ditadura civil-militar brasileira, deflagrada pelo Golpe
de 1964 e “terminada” numa grande conciliação de classes vinte e um anos
depois, inquirimos: o que fazer? Diante da crescente concentração de renda,
descaso socioambiental, a elasticidade das leis, chicotadas, berros e
preconceitos, num país onde todos temem a todos, me respondam: o que fazer?
Jornalista renomada e de brilhante perspicácia e erudição e
um psicanalista
progressista de profundidade intelectual admirável nos alertaram
recentemente: brasileiras e brasileiros –pobres, desempregados e/ou
precarizados – estão adoecendo.
Negros periféricos
tornaram-se alvo de uma violência de Estado praticamente legitimada por
seu atual (des)governador – política de Estado,
convenhamos, que desde os idos coloniais impera. O índice de intolerância
aumenta diariamente desde o final de 2018 e início de 2019. Há um temor
constante, em todos os lugares. Estamos doentes, tristes e frustrados. Então
indago novamente: o que fazer?
Dialogar (ao menos tentar) com o outro;
ser empático (ao menos tentar) com o outro; nas escolas públicas, mostrar a
realidade social, política e econômica brasileira, passada e atual – nós,
professores de História, Geografia, Filosofia, Sociologia e Linguagens, tão
demonizados e atacados injustamente, contra-ataquemos: façamos com que alunos
(ou ao menos tentemos) leiam bons poemas, (de Oswald a Sérgio Vaz),
questionadores e críticos; escutem boas canções, as antigas e as atuais,
revendo velhos preconceitos, reinterpretando novas palavras e ideias
(desde Chico Buarque de Hollanda e Milton
Nascimento a MC. Carol e Pabllo
Vittar), para que percebam que tudo muda constantemente – e, se quisermos,
para melhor; que assistam bons filmes, os clássicos e os atuais; formemos,
todos nós, as novas gerações para um futuro diferente da distopia que nos
adoece e mata, principalmente as gentes vulneráveis brasileiras.
Finalmente, ocupemos JUNTOS todos os
espaços públicos tomados por lunáticos e inebriados por uma boçalidade
aterradora que hoje ‘preside’ a Nação – ocupemos praças e avenidas, em
manifestações e protestos (quando possível). Uma coisa é certa: nada muda fora
da política. Frisemos: da boa política. Mas, também nada está ou anda fácil.
Nada. A angústia, o temor pelo futuro sombrio que se avizinha (ou que já
chegou) parece nos engolir por inteiro.
Será o fim?
Será que conseguiremos recuperar forças
para nos reagruparmos, voltar a amar e ter esperança? Será que conseguiremos
ocupar os espaços públicos e de poder para, de fato, revolucionarmos as
estruturas, redistribuir renda, gerar empregos dignos e formais, dar segurança
ao trabalhador, uma habitação confortável, uma escola crítica, questionadora,
pública e de qualidade, ruas limpas, arborizadas, segurança pública cidadã,
fomento a Educação universitária, terra aos sem-terra, livros e alfabetização
crítica aos analfabetos, alegria e saúde aos que estão se adoecendo
diariamente?
Darcy
Ribeiro sempre nos alertou: não fomos feitos para sermos uma Nação de
cidadãos politicamente conscientes, livres e ativos, mas uma grande fazenda
senhores e escravos. Nos quesitos democracia e cidadania, Sérgio Buarque também redigiu: aqui, a democracia
sempre foi um grande mal entendido. Acredito que o Brasil ainda está por se
fazer. Os brasileiros ainda estão por se encontrar – juntamente com seus irmãos
latino-americanos.
Tentemos, caras e caros. Tentemos. Ou
juntos choraremos o início do fim. Se é que já não estamos nele.
*Luís Felipe Machado de Genaro é
historiador, mestre em história pela UFPR e professor da rede municipal de
Itararé
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