É hora de nos unirmos novamente, como
fizemos em outros momentos dramáticos da vida nacional, em que nossa
sobrevivência como nação independente esteve ameaçada pela tirania.
Por Ricardo Kotscho
Jornalista Ricardo Kotscho, considerado um dos principais ícones da imprensa nacional |
E depois? O que será do Brasil?
Quase todo mundo já percebeu que o
governo já não reúne a menor condição política, econômica, social, moral e
mental de conduzir o país até 2022.
Está na hora de começarmos a pensar em
como organizar o país sobre os escombros do período Bolsonaro.
Muita gente já está fazendo isso nos
diferentes movimentos sociais da sociedade civil, que volta a se mobilizar em
defesa da democracia.
Por enquanto, as pessoas ainda estão
promovendo atos e reuniões em ambientes fechados, com quase nenhuma
visibilidade na mídia, mas a resistência ao arbítrio existe e começa a ganhar
forma sob o comando de entidades como a OAB, a CNBB, a UNE e a ABI, com a
participação de trabalhadores, estudantes, acadêmicos, juristas, jornalistas,
defensores dos direitos humanos.
Bastaram menos de nove meses para o
capitão expulso do Exército colocar em prática o que havia prometido: destruir os
alicerces democráticos do país para “combater o comunismo” e depois começar
tudo de novo.
Ninguém mais tem o direito de ficar
indiferente a tragédias como o assassinato da menina Ágatha, de 8 anos, durante
mais uma operação policial no Rio contra a população pobre das comunidades,
cujas vidas estão ameaçadas pela insanidade do governador Wilson Witzel, sob a
complacência do presidente Jair Bolsonaro e do seu ministro da Justiça, Sérgio
Moro.
Não satisfeitos com a violência
oficializada, que mata civis e policiais militares como num estande de tiro ao
alvo, o trio da necro-política queria aprovar um pacote anticrime criminoso
para liberar de vez a matança.
Com a Amazônia ainda ardendo em chamas e
a morte de Ágatha chocando o mundo civilizado, o governo brasileiro inicia hoje
uma campanha publicitária no exterior para “limpar a imagem” do país, ao custo
de R$ 40 milhões, no momento em que Bolsonaro desembarca em Nova York para a
Assembléia Geral das Nações Unidas.
Pouco importa o que ele vá dizer.
Ninguém lá fora acredita mais no que ele fala. Poderia ter economizado o
dinheiro da viagem.
Representações diplomáticas do país no
exterior têm sido atacadas em protestos contra o governo, que se tornou uma
ameaça a toda a a humanidade (ver matéria de Jamil Chade no UOL).
Grandes empresas da Europa estão
deixando de comprar produtos brasileiros, turistas fogem do Brasil como dos
países em guerra, e não se vê uma única iniciativa do Congresso e do Supremo
para dar um basta à escalada de agressões e ameaças contra a população indefesa
e o Estado Democrático der Direito.
Diante do desastre anunciado, os
generais se recolheram à sua insignificância porque o capitão não ouve mais
ninguém, na sua alucinada guerra contra o mundo.
Sem dinheiro para nada, Bolsonaro abre
os cofres para fazer mais agrados aos militares, como aconteceu ainda na semana
passada, em que aumentou a despesa com as Forças Armadas para o próximo ano em
R$ 4,8 bilhões, com novos penduricalhos para os fardados.
Com os partidos destroçados pela onda
bolsonarista e suas milícias digitais, só resta à população se reorganizar pela
base até chegar o momento de voltar às ruas num grande movimento de salvação
nacional.
É essa a tarefa que nos cabe agora,
antes que seja tarde demais.
Se cada um cuidar só do seu quadrado na
tentativa de sobreviver, em breve não teremos mais país para defender.
O sorriso da garota Ágatha ficará
marcado em mim para sempre como símbolo de um país que chegou ao ponto mais
vergonhoso de degradação humana.
O desespero da mãe dela na hora do
enterro, agarrada à boneca da filha, na foto da primeira página da Folha desta
segunda-feira, me lembrou a imagem célebre daquele chinês que se colocou diante
dos tanques do exército como último recurso para defender sua dignidade.
Não basta chorar, se indignar, xingar os
carrascos, protestar nas redes sociais.
É hora de nos unirmos novamente, como
fizemos em outros momentos dramáticos da vida nacional, em que nossa
sobrevivência como nação independente esteve ameaçada pela tirania.
Tarda, mas ainda é tempo.
Vida que segue.
Nenhum comentário:
Postar um comentário