Jair Bolsonaro acerta quando fala que,
em seu governo, a taxa de juros atingiu o menor patamar da história do Brasil.
Mas erra na causa. É justamente a fragilidade da economia, praticamente
estagnada, que permite ao Banco Central reduzir a Selic. Houvesse emprego,
renda e investimentos, o BC teria que fazer o contrário: subir a Selic
*Por Ivanir José Bortot
O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da Economia, Paulo Guedes - Foto: Orlando Brito |
O Presidente da República, Jair
Bolsonaro, comemorou a redução da taxa básica de juros. Em decisão unânime, o
Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu a taxa em 0,5
ponto percentual, de 6% para 5,5%.
“Em nosso governo, pela segunda vez, a
mais baixa taxa de juros da historia do Brasil. É a economia dando certo”, publicou
Bolsonaro em sua conta do Twitter.
É um fato histórico o Banco Central ter
trazido as taxas de juros ao menor patamar desde 1986, quando começou o
registro desta série. Nenhum presidente da República anterior conseguiu fixar
juros em níveis tão baixos. Bolsonaro poderá incluir entre seus feitos a
menor Selic da história.
Se a queda histórica é verdadeira, tenho
discordância da frase do presidente: ”É a economia dando certo”.
Deu errado, presidente
Na realidade, o Banco Central reduziu as
taxas de juros por ver exatamente o contrário. Se a economia estivesse
crescendo haveria mais empregos, mais renda, as pessoas estariam consumindo
mais e os empreendedores estariam investindo. O reflexo deste processo
produtivo estaria pressionando a inflação.
Neste caso, o BC não reduziria os juros,
uma vez que sua missão é manter a inflação sob controle. Apenas para lembrar
nosso leitor, juros baixos não são sinônimo de economia em crescimento.
Suécia e Japão vem praticando juros
negativos há muito anos. Os Estados Unidos reduziram juros neste quarta, 18,
diante de um cenário de desaquecimento da sua economia e de países da Europa.
Com inflação sob controle e crescimento
abaixo do seu potencial, a autoridade monetária promoveu mais uma redução das
taxas de juros para estimular o investimento e o consumo, que estão estagnados
há anos. Este estímuto é positivo, mas seus efeitos são limitados e tem efeito
no longo prazo, especialmente pelo fato do governo executar uma política fiscal
contracionista.
O spread bancário, a diferença entre
esta taxa oficial de juros e o custo final para o tomador de empréstimos, é um
fato que inibe a maioria das pessoas de se endividar. É verdade que grandes
empresas hoje podem ter acesso a recursos em operações feitas com debêntures
incentivados com custos equivalentes à variação da inflação e juros reais da
ordem de 3%, mas isso não vale pára a grande maioria dos empreendedores e
consumidores.
As novas taxas pouco aliviam os custos
dos empréstimos aos correntistas, mas é de grande valia para redução dos custos
de rolagem da dívida do Tesouro Nacional, que passa a pagar juros de 5,5%
nominal. A taxa terá impacto parcial sobre a dívida pública, uma vez que a
maioria dos papéis do Tesouro foram vendidos em prazos longos com taxas bem
maiores. De qualquer forma é bom para o governo e ruim para os rentistas.
Milagre econômico
Para a economia dar certo no atual
governo serão necessárias medidas de estímulo efetivas, como elevar os
investimentos em obras públicas e gastos sociais. O ex-ministro da Fazenda,
Nelson Barbosa, chega até mesmo a defender que isso pode ser feito com emissão
de títulos públicos pelo Tesouro Nacional, sem que isso agrave o atual processo
de endividamento público, que é grave.
O fato é que com uma retomada do crescimento
da economia todos podem ganhar, inclusive a União com mais receitas via
arrecadação de impostos. As medidas efetivas que podem ser adotadas pela equipe
econômica são muitas.
Sempre depende da conjuntura, da
oportunidade e da experiência dos economistas. É o caso do ex-ministro da
Fazenda, Delfim Netto, que fez sua mágica para que a economia crescesse no que
ficou conhecido como “milagre econômico dos anos setenta”. Delfim também deu
grandes contribuições, como consultor, para o crescimento da economia no
segundo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
*Formado em jornalismo pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul com pós graduação em jornalismo econômico pela
Faculdade de Economia e Administração(FAE) de Curitiba/PR. Repórter especializado
em finanças públicas e macroeconomia, com passagens pela Gazeta Mercantil,
Folha de São Paulo e Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
Participou da cobertura de formulação e implementação de todos os planos
econômicos do país deste o Plano Cruzado, em 1985, ao plano Real, de 1994.
Sempre atuou na cobertura diárias das decisões de política econômica dos
Ministério do Planejamento, Fazenda e Banco Central. Experiência em grandes
coberturas de finanças como das reuniões anuais do Fundo Monetário
Internacional(FMI), do Banco Mundial(BIRD) e Banco Interamericano de
Desenvolvimento(BID).
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