Por Fernando Brito
Quando a política tira da mira o bem
comum e a ação coletiva que o busca, como nestes tempos em que ideologia é uma
palavra maldita e partido político foi, praticamente, transformado em
organização criminosa ante os olhos da opinião pública, o que norteia os que
ocupam cargos dirigentes é só a feroz disputa marqueteira por prestígio e
“votos futuros”.
Portanto, a questão que a pesquisa
Datafolha coloca, ao divulgar hoje que Sergio Moro ainda conserva parte
expressiva de aprovação (54 de bom ou ótimo), perdendo gás em menos velocidade
que Jair Bolsonaro (29%, na mesma medição), é se isso ajudará o ministro da
Justiça a tomar coragem e “peitar” seu chefe ou se fará o ex-capitão mais
ofensivo na sua determinação de matar ,ainda no ovo, a serpente de um
adversário em 2022.
Em outras palavras, se Moro, como a
gralha da fábula, deixará que a vaidade o faça deixar cair o queijo
ministerial, sem o qual – agora que não é mais o todo-poderoso juiz dos
políticos – e recusará a série de humilhações a que Bolsonaro o submete ou ou o
efeito será o de fazer o presidente avançar no processo de miniaturização da
autoridade de seu ministro, seja por cálculo eleitoral, seja pela natureza de
sua política de ódios.
Estamos, creio eu, mais perto da segunda
hipótese que da primeira. Se tem índices de aprovação maiores que os do
ex-capitão, nas batalha de poder, este tem força incomparavelmente maior. Moro
dificilmente resistiria a três anos sem a exposição (e sem o foro privilegiado)
da condição de ministro da Justiça.
Ainda mais com a possibilidade – e
talvez, para ele, a certeza – de que as revelações da “Vaza Jato” estejam sendo
dosadas para só o alcançarem com mais intensidade quando estiver mais fraco.
Que o manto do silêncio da Globo possa, em parte, protegê-lo, mas há muita
gente nesta área: Dória. Luciano Huck e quem mais vier.
Bolsonaro, ao contrário, tem todos os
instrumentos para, querendo, atingir Moro: desde a caneta Compactor (ex-Bic) da
indicação do Procurador Geral da República, da nomeação de delegados “seus”
para a Polícia Federal, até os conflitos do Congresso com Moro.
Ainda mais quando já se viu que ele
pouco liga para conservar bases mais amplas de apoio, o que troca pelo
aguerrimento de sua matilha.
Ele conta que não é possível -fora das
elites,- ser morista sem
ser bolsonarista.
O rei da selva não tem príncipe.
Fonte: Publicado no Tijolaço
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